27 de dezembro de 2008

Para a história dos motores de busca

Hoje fazem parte do nosso quotidiano. E querem dizer, em primeiro lugar...Google. Mas como foi que os motores de busca acabaram por ocupar uma tão forte centralidade? Em "A Brief History of Search Engines", Lee Underwood conta alguns desses passos (Existe também uma tradução em francês].

26 de dezembro de 2008

O ANIM e a História do Cinema Português

Vem no Público (suplemento Ipsilon) de hoje:

"Tiago Baptista História do cinema português com aspas
Kathleen Gomes

Saindo da A8, as referências para chegar ao ANIM (Arquivo Nacional das Imagens em Movimento) são um toldo amarelo e um candeeiro de ferro torto.
Não é muito, mas já não estamos na cidade: o cofre-forte da Cinemateca Portuguesa é uma quinta no campo a meia hora de Lisboa, uma excentricidade zen no alto de uma paisagem visceral.
A colecção de filmes da Cinemateca é aqui guardada em caves com temperaturas rigorosamente controladas, ao ponto de a ventilação reagir à presença humana. "Le Soulier de Satin" de Manoel de Oliveira: 26 bobines. "Lord of the Rings": 5 bobines. Não se tira o casaco porque faz tanto ou mais frio dentro do ANIM quanto fora, o que também é válido para o gabinete de Tiago Baptista, 32 anos, historiador e conservador de cinema português.
A Tinta-da-China acaba de publicar "A Invenção do Cinema Português", que tem o formato que tem, de álbum ilustrado (ninguém suspeitava que o cinema nacional dava um "coffee table book"), mas é uma acha para a fogueira onde normalmente se queimam argumentos e convicções sobre o cinema feito em Portugal. Podia ser uma história do cinema português, mas é uma história do "cinema português" - com aspas. É o livro de alguém cuja experiência enquanto espectador não coincide com tudo aquilo que se diz do cinema português. Encarem-no como um manual para desmontar as armadilhas disso a que chamamos "cinema português" e que ganhou vida própria, independentemente dos filmes, cá dentro mas também lá fora.
"O conceito de 'cinema português' é ideologicamente muito carregado", nota Tiago Baptista. "Tem muitíssimas conotações mas é utilizado de maneira muito neutra e transparente como se não fosse um conceito muito opaco. É uma expressão que está longe de designar apenas o conjunto de filmes produzidos em Portugal. Ela já traz consigo todas as ideias feitas, preconceitos e 'clichés' sobre o que o cinema português é ou não é."

Obsessão
O livro mostra como o cinema português foi sempre um cinema aspirante: o debate sobre o que ele devia ser, obsessão actualíssima, não nasceu ontem. A primeira coisa que se lê quando se abre o livro é "O cinema português sempre existiu" (título da introdução) e deve ler-se "O 'cinema português' sempre existiu". Apesar de parecer uma constatação inocente, é tão provocatória quanto "O cinema português nunca existiu" de João Bénard da Costa, monografia publicada em 1996 (edições CTT) e tese por ele explorada no documentário de Manuel Mozos, "Cinema Português?" (1997).
Partindo de uma selecção de meia centena de filmes, do lumièreano "Saída do Pessoal da Camisaria Confiança" (1896), do pioneiro Aurélio Paz dos Reis, a "Aquele Querido Mês de Agosto" (2008), filme-cometa de Miguel Gomes, o livro de Tiago Baptista mostra como o cinema feito em Portugal foi sempre refém de uma construção mental do que devia ser esse cinema.
A obsessão com a criação de uma cinematografia nacional não é uma "especificidade" portuguesa, nota o autor, mas "não era obrigatório que se definisse como uma cinematografia acerca da identidade nacional". Ou, como escreve na introdução, um cinema que quer falar mais sobre o 'ser' do que sobre o 'estar' - ser 'português', naturalmente". Tiago Baptista precisa: "Os filmes portugueses ao longo do tempo dizem-nos mais sobre a ideia de Portugal que estava na cabeça das pessoas que o fizeram do que sobre o país. Os filmes portugueses estão muito longe de serem usados como documentos sobre a época histórica em que foram produzidos."
O "cinema português" sempre idealizou um país maior do que realmente era?
"Não sei exactamente. Durante muito tempo, não estava preocupado em fazer um retrato do país. Estava preocupado em mostrar o que o país devia ser."
Um retrato "bigger than life", portanto?
"De certo modo, sim. Nesse sentido, não estava tão atento ou não privilegiava um olhar sobre a contemporaneidade, sobre a realidade, sobre aquilo que estava mais próximo. Havia sempre a tentação de partir de algumas ideias pré-concebidas sobre o que o país era e ir ao encontro das situações dramáticas ou dos cenários naturais e dos tipos humanos que confirmassem essas ideias - que vinham da literatura, da filosofia, da arte." Se ele fala no pretérito imperfeito é porque, apesar de tudo, a década de 90 representou uma mudança. "Os filmes feitos a partir dos anos 90 põem entre parêntesis a preocupação em fazer cinema português. Querem só fazer cinema", resume Tiago Baptista.
A culpa para a obstinação identitária do cinema português remonta ao tempo do mudo. O livro chama a atenção para o facto de até os primeiros filmes feitos por um português serem feitos a pensar num mercado estrangeiro, nomeadamente brasileiro. O "flop" foi total, ao ponto de Aurélio Paz dos Reis ter desistido de fazer cinema. Mas a partir daí e até aos anos 50, o cinema português foi pensado como "um embaixador", assinala Tiago Baptista, "uma espécie de cartão de visita que veiculasse uma certa ideia do país no estrangeiro".
Para mais, acreditava-se que a criação de uma cinematografia nacional "seria um factor de distinção para melhorar a competitividade do cinema português", tanto a nível externo como interno. Que a marca nacional tenha sido isco para a promoção dos filmes portugueses é qualquer coisa que parece uma impossibilidade nos dias que correm, mas está à vista em "A Invenção do Cinema Português". Cartazes dos anos 30 e 40, incluídos no livro, revelam todo o tipo de experiências que se fizeram com a escala da portugalidade. "A Severa" (1931): "O mais português dos filmes portugueses". "A Canção de Lisboa" (1933): "O primeiro filme português feito por portugueses". "Fado, História d'Uma Cantadeira" (1947): "No mais português de todos os filmes". O último filme a publicitar-se como "português" é "Os Verdes Anos" (1963), de Paulo Rocha: "Um filme português inesperado". O cinema novo foi uma ruptura, mas tal como o cinema dos anos 50, que condena, esforça-se por representar uma ideia do país. Esta, diz Tiago Baptista, é "a ideia mais estrutural e transversal na história do cinema feito em Portugal" e o livro tenta dar conta dessa continuidade, por ordem cronológica, e debruçando-se sobre casos específicos.
É, de certo modo, um processo dinâmico, a história do cinema português também é uma história de recomeços. "Tendo em mente que o que interessava era criar uma cinematografia nacional, com características distintivas de todas as outras, havia sempre um diagnóstico de que o cinema que estava para trás não tinha cumprido esse objectivo. E que era preciso fazer tábua rasa, arrancar de novo. Isso foi um ciclo repetido ao longo de grande parte da história do cinema português", assinala Tiago Baptista. É a ilustração do mito sebastianista: o cinema português é o cinema das expectativas não cumpridas.
Mesmo que a partir dos anos 90, alguns realizadores e obras dinamitem essa concepção de um cinema nacional, o cinema português "já é estigmatizado pelo público ou idolatrado por alguma crítica estrangeira como uma cinematografia muito específica". Ao ponto, sublinha Tiago Baptista, de poder funcionar como um género, com os devidos efeitos redutores.

Desmontar o cânone
A proposta de "A Invenção do Cinema Português" não é fixar um cânone, é, quando muito de desmontá-lo, admite o autor. A visão é radioscópica, integra cinema de autor e cinema comercial, "O Crime do Padre Amaro" e "Juventude em Marcha" ocupam o mesmo espaço - apesar de tudo o que os separa e que é quase tudo, são filmes que procuram abordar a realidade contemporânea. "Os filmes que aqui estão são aqueles que ajudaram a construir ou desconstruir a ideia de cinema português", diz Tiago Baptista.
"A Invenção do Cinema Português" é também um contributo assinalável para a visibilidade de uma cinematografia que, apesar de tudo, permanece pouco vista. O "cinema português", conclui o autor, é uma "categoria mentirosa", a prova são as reacções ao seu livro. "Algumas pessoas já me disseram que acham as imagens [cenas dos filmes, fotografias de rodagem, cartazes e material promocional] muito bonitas. E dizem-no com algum grau de surpresa. Porque o facto de estas imagens serem tão bonitas e apelativas não bate certo com a ideia que elas têm do cinema português - como uma coisa muito obscura, feia, cinzentona."
Esta ideia também não batia certo com o que ele, Tiago, via nos filmes portugueses. Por isso é que fez um livro.
"Gostava de pensar que é um livro para qualquer pessoa que tenha alguma curiosidade em relação ao cinema português e espero que não seja apenas para as pessoas que já gostam de cinema português."
O facto de ser alguém com um conhecimento anormal do cinema português - Tiago Baptista é especializado em cinema mudo - coloca-o por vezes em situações especiais. "Lembro-me que uma amiga ficou muito surpreendida quando eu lhe disse que alguns dos filmes da minha vida são portugueses. Isso era qualquer coisa de inimaginável para ela. Mas é verdade. Não são os únicos, mas são alguns."

12 de dezembro de 2008

Um novo jornal impresso na Galiza

Não é todos os dias que se lança um jornal impresso, nos tempos que correm. Ainda que um pouco à margem do âmbito deste blogue, aqui fica constância do lançamento do Xornal de Galiza, versão impressa de um jornal digital já com nove anos de existência, e que aconteceu na passada terça-feira. E, para assinalar o facto, o Xornal publicou um interessante caderno com conteúdos de mais de 200 colaboradores, e que se pode consultar aqui:

(Fonte: Xornal de Galicia)

3 de dezembro de 2008

Dicionário Jornalístico Português em DVD

Na newsletter da revista "Meios e Publicidade" vem hoje esta informação, assinada por Sofia da Palma Rodrigues:

"O Dicionário Jornalístico Português, obra dos Arquivos da Academia das Ciências, foi digitalizado, sob o patrocínio do grupo Impresa, e vai ser apresentado por Francisco Pinto Balsemão, quinta-feira, dia 4, no Salão Nobre da Academia das Ciências, informa a Impresa em nota enviada às redacções.A obra, da autoria de Augusto Xavier da Silva Pereira (1938 - 1902), é pertença da Academia das Ciências e corria o risco de se deteriorar e perder devido às dificuldades orçamentais para suportar os encargos necessário para a sua preservação. O presidente da Academia das Ciências, Adriano Moreira, recorreu a Francisco Pinto Balsemão, para salvar a obra, que ajudou à sua digitalização, recorrendo a uma empresa especializada. Ao mesmo tempo, procedeu-se a um trabalho de indexação de todo o conteúdo, executado por um grupo de docentes da Universidade Autónoma de Lisboa, de modo a tornar mais simples e rápida a consulta.

A obra de Augusto Xavier da Silva Pereira está agora eternizada e será divulgada em DVD. Segundo adiantou ao M&P fonte da Impresa, o DVD não terá fins comerciais sendo apenas distribuído em bibliotecas e universidades.

O Dicionário Jornalístico Português é uma obra completa de todas as publicações periódicas editadas no espaço da língua portuguesa entre 1625 e 1889. São 5.865 páginas manuscritas distribuídas por 13 volumes, onde se faz o levantamento e identificação de cerca de seis mil jornais que circularam em Portugal, Brasil (até à independência) e outros territórios ultramarinos em mais de dois séculos e meio. A par dos títulos, é também feita uma cronologia da legislação da imprensa portuguesa".

14 de novembro de 2008

3 de novembro de 2008

O maior arquivo de cartoons


"A maior base de dados de cartoons do mundo. É isso que nos promete British Cartoon Archive na Universidade de Kent, Reino Unido, que vai lançar já nesta quarta-feira o seu novo site, no qual adquire lugar de destaque o arquivo digitalizado do cartoonista Carl Giles, com mais de 12.000 peças.
Este espaço constitui, agora de forma reforçada, um lugar de destaque para o estudo da história política e social daquele país.
De acordo com uma notícia do Público online, Nicholas Hiley, o responsável pelo Arquivo de Cartoons Britânico, explica que a colecção começou em 1973 quando passaram a reunir recortes de "cartoons" de jornais que estavam guardados em velhas caixas, "desvalorizados pelos jornais".
Em Portugal, o Museu Nacional da Imprensa, sediado no Porto, além de uma Galeria Internacional do Cartoon, possui também uma galeria virtual de múltiplos países, alusiva ao tema do 11 de Setembro de 2001.

26 de outubro de 2008

Império bizantino e questão iconoclasta

Acaba de abrir em Londres a Bizantium 330-1453, uma grande exposição sobre a cultura e arte bizantinas ao longo de mais de mil anos. O caderno P2 do Público tem um desenvolvido trabalho sobre o assunto, da autoria da jornalista Alexandra Lucas Coelho. E citamos o evento e a cobertura jornalística aqui porque, num e noutro caso, são várias as referências a uma dimensão relevante da História da Imagem: a questão iconoclasta.


A exposição, patente na Royal Academy of Arts até 31 de Março de 2009, inclui uma parte sobre os célebres ícones da arte bizantina e, inevitavelmente, sobre o problema político e teológico-religioso da representação imagética do sagrado.
O trabalho do Público refere-se-lhe nos seguintes termos:

Seguem-se explicações sobre o Período Iconoclasta, no século VIII, quando o imperador Leão decide banir as imagens.
Porquê? Responde Cyril Mango no catálogo: o Islão estava em expansão vitoriosa, e porque eram os árabes tão vitoriosos, eles que não tinham imagens de Deus? Leão terá achado que os cristãos estavam a ser punidos por terem cedido à idolatria.
"Bizâncio começou com arte figurativa e depois veio um imperador e disse: foi um grande erro", sintetiza Robin no meio dos jornalistas. "E esse debate prolongou-se por mil anos."
O Período Iconoclasta teve várias consequências com impacto até hoje, e uma delas é o que sabemos da literatura antiga. Como não podiam fazer imagens, os bizantinos desse período concentraram-se em copiar livros, explica Cyril Mango, no catálogo. "O nosso conhecimento de literatura grega está muito confinado às cópias feitas durante Bizâncio. O que não foi copiado perdeu-se." Por outro lado, os bizantinos eliminaram dos textos o vernáculo, deixando-nos uma imagem distorcida da escrita da época.



No site da exposição encontra-se, entre outros motivos de interesse, um guia de natureza educativa que se refere também ao problema da iconoclastia. Ficam aqui algumas citações:
‘As the painters when they paint icons from icons, looking closely at the model, are eager to transfer the character of the icon to their own masterpiece, so must he who strives to perfect himself in all branches of virtue look to the lives of saints as if to living and moving images and make their virtue his own by imitation.’
Sacra Parallela, John of Damascus (Eighth-century)

‘The honour that is paid to the image passes on to that which the image represents and he who does worship to the image, does worship to the subject represented in it.’
Second Council of Nicaea, 787

Byzantine icons had a functional as well as an aesthetic aim: they were made as props in the face of joy and sorrow, happiness and pain. They received the prayers and veneration that passed through them to the ‘other’ world that they symbolized, and they were expected to reflect the powers of God.
Robin Cormack, in Byzantine Art

Byzantine iconophiles, or image-lovers, believed that icons were holy in their own right, and not solely devotional objects. Icons and their recurrent subjects – Christ as ruler of the world, the Virgin and Child, and a host of various saints – provided a moral example to worshippers, illuminating the importance of family life and reiterating Christian doctrine.
In Bizantium 330-1453 Exhibition Education Guide, 2008

24 de outubro de 2008

Para a História da Propaganda nas eleições presidenciais dos EUA


O Museum of the Moving Image, de Nova Iorque, criou uma zona de actividades dedicada à História da propaganda Política nas eleições presidenciais norte-americanas, desde 1952 até à actualidade, intitulada The Living Room Candidate - Presidential Campaign Commercials 1952-2008.
É uma oportunidade especial para ver não apenas a evolução dos cartazes, dos processos de convencimento dos eleitores, dos vídeos, etc, mas também dos perfis dos candidatos, dos acopntecimentos históricos marcantes dos vários mandatos, dos resultados eleitorais, etc.
Ao mesmo tempo, o site abre uma zona interessante de materiais de apoio, tais como Analysis of Political Commercials (veja-se, nomeadamente History of Political Commercials) e a proposta de oito lições para abordar estes temas nas aulas, além de outros recursos.
Vale a pena a visita, nestes tempos em que assistimos a mais uma corrida eleitoral naquele país, de resto especialmente bem documentada neste site.
(Dica: blogue do Público Eleições EUA 2008).

18 de outubro de 2008

Sobre as origens dos folhetins nos media


Os folhetins ou histórias em episódios surgiram na imprensa diária, na primeira metade do séc. XIX. As radionovelas e as telenovelas são a transposição ou adaptação deste género à rádio e à televisão. É sobre este tema a crónica de hoje de Educardo Cintra Torres, no Público.
Alguns excertos:

O nascimento da telenovela ficou destinado no dia 19 de Junho de 1842 - cerca de um século antes de aparecer a televisão. Nesse dia começou a publicar-se no Journal des Débats, de Paris, o folhetim de Eugène Sue Os Mistérios de Paris, o primeiro dos grandes êxitos do género. O furor foi total. A narrativa ia evoluindo consoante as reacções do público, como se o folhetim se escrevesse a si mesmo. Ricos e pobres agarravam-se ao jornal e liam os numerosos enredos simultâneos de acordo com os seus sonhos e a sua posição. As audiências aumentaram: o jornal ganhou 20.000 assinaturas. Os gabinetes de leitura pública alugavam um exemplar do Journal des Débats a dez soldos por meia hora.
(...) Sue defendia aqui a caridade e a acção individual, sem ter de alterar-se a ordem social: basta que o herói seja um super-herói e os pobres terão consolo. Por isso Marx e Engels, na sua primeira obra conjunta (1845), desancaram Sue.
Mas houve mais consequências: o mundo rendeu-se ao novo género do folhetim - melodrama em episódios mutantes - e por todo o lado surgiram mistérios: Mistérios de Berlim, Mistérios de Munique, Mistérios de Bruxelas, Mistérios de Londres, Mistérios de Marselha, Mistérios de Nápoles, até Balzac, o Grande, escreveu, para variar, Mistérios de Província, e por cá Camilo, porque tinha de ser ele, escreveu uns Mistérios de Lisboa (1854), que começam com a promissora frase folhetinesca "Era eu um rapaz de catorze anos, e não sabia quem era." (Centenas de capítulos depois, Camilo acaba o melodrama com o desenlace apropriado: "O mundo ignora que estas duas sepulturas são o leito nupcial daqueles dois desgraçados.")
Escrito para o consumo de massa, obedecendo aos gostos e exigências da audiência, o folhetim pressupunha a perda de autonomia do escritor. E, com a escrita para o dia-a-dia, vergava às regras da indústria da imprensa. Era o primeiro exemplo flagrante das indústrias culturais. Edgar Poe não gostou que o "único objectivo" de Sue tivesse sido "fazer um livro excitante e, consequentemente, vendível." Até hoje, este dilema não abandonou as indústrias culturais, desde a literatura à TV.
É importante sublinhar que a actualidade social do folhetim de Sue contribuiu para o seu impacto. Entretanto, o mito em torno dos Mistérios de Paris avantajou-os; chegou-se a escrever que, ao consciencializarem o povo de Paris da sua miséria, tinham contribuído para a Revolução de 1848. Na verdade, o poder político esteve atento e arranjou maneira de condicionar autores e editores: a ERC da época fez sair em 1851 uma forma de censura indirecta, a lei Riancey, criando uma taxa de cinco cêntimos por cada jornal que incluísse um folhetim.
Os Mistérios de Paris prolongaram-se noutras formas de cultura de massas, com cinco adaptações francesas ao cinema entre 1911 e 1962, uma italiana (1957) e uma série de TV franco-alemã (1980). Depois da obra pioneira de Sue, cuja leitura integral é hoje tão intragável como seria ver ou ler os diálogos de Vila Faia (RTP1, 1982) ou de Todo o Tempo do Mundo (TVI, 1999), surgiram inúmeros folhetins, alguns para sempre, como Os Três Mosqueteiros ou O Conde de Monte Cristo. Num outro Mistério, o da Estrada de Sintra, Eça e Ramalho subverteram o género, fazendo do romantismo uma divertida mas criminosa estupidez.
Convém-me aqui um flash-back: em Inglaterra e em França já havia romances retalhados para divulgação parcial ou integral na imprensa, mas não eram folhetins como os Mistérios. O volte-face começa em 1836, com La Presse e Le Siècle, os primeiros jornais franceses destinados à massa e, pormenor nada desprezível, pioneiros no uso da melhor forma de introduzir a publicidade na imprensa: baixando o preço do exemplar. (...) Essas primeiras ficções na imprensa eram ainda romances divididos em parcelas diárias, enquanto Os Mistérios de Paris foi escrito enquanto folhetim, ao serviço do leitor e da actulidade para obter a máxima audiência, com as suas lágrimas de sangue, ganchos criando suspense para o dia seguinte, cenas intermináveis, repetição de narrativas e flash-backs, reconhecimento de filhos extraviados e de pais perdidos, com pobres e ricos cruzando-se num amor talvez não impossível ou num ódio talvez abatível. Nada que um espectador de hoje não conheça. (...)

(Imagem: Eugène Sue)

15 de outubro de 2008

Platão: a escrita, a memória e a sabedoria

In Platão. Fedro ou da Beleza. 2a. ed. Trad. e notas de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães, 1981, p. 145-152.

(...)
Sócrates – Por acaso sabes quais são as condições necessárias para que, já os discursos, já as acções sejam agradáveis aos deuses?

Fedro – Não, e tu sabes!

Sócrates – Pelo menos, conheço uma lenda que nos foi transmitida pela tradição antiga. Se é verdadeira ou falsa, não sei, mas, se por nós mesmos pudéssemos descobrir a verdade, importar-nos-íamos com o que os homens dizem?

Fedro – Que pergunta! Vamos, conta-me essa história que dizes ter ouvido!

Sócrates – Pois bem: ouvi uma vez contar que, na região de Náucratis [NT: Colónia grega no delta do Nilo. Platão visitou essa colónia aquando da sua estada no Egito], no Egito, houve um velho deus deste país, deus a quem é consagrada a ave que chamam íbis, e a quem chamavam Thoth. Dizem que foi ele quem inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, bem como o jogo das damas e dos dados, e, finalmente, fica sabendo, os caracteres gráficos (escrita). Nesse tempo, todo o Egipto era governado por Tamuz, que residia no sul do país, numa grande cidade que os gregos designam por Tebas do Egipto, onde aquele deus era conhecido pelo nome de Ámon. Thoth encontrou-se com o monarca, a quem mostrou as suas artes, dizendo que era necessário dá-las a conhecer a todos os egípcios. Mas o monarca quis saber a utilidade de cada uma das artes e, enquanto o inventor as explicava, o monarca elogiava ou censurava, consoante as artes lhe pareciam boas ou más.

Foram muitas, diz a lenda, as considerações que sobre cada arte Tamuz fez a Thoth, quer condenando, quer elogiando, e seria prolixo enumerar todas aquelas considerações. Mas, quando chegou a vez da invenção da escrita, exclamou Thoth: “Eis, oh Rei, uma arte que tornará os egípcios mais sábios e os ajudará a fortalecer a memória, pois com a escrita descobri o remédio para a memória: – “Oh, Thoth, mestre incomparável, uma coisa é inventar uma arte, outra julgar os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os outros! Tu, neste momento e como inventor da escrita, esperas dela, e com entusiasmo, todo o contrário do que ela pode vir a fazer!

Ela tornará os homens mais esquecidos pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nas escrituras e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos. Por isso, não inventaste um remédio para a memória, mas sim para a rememoração.

Quanto à transmissão do ensino, transmites aos teus alunos não a sabedoria, pois passarão a receber uma grande soma de informações sem a respectiva educação! Hão-de parecer homens de saber, embora não passem de ignorantes em muitas matérias e tornar-se-ão, por consequência, sábios imaginários, em vez de sábios verdadeiros!

Fedro – Com que facilidade inventas, caro Sócrates, histórias egípcias e de outras terras quando isso te convém!

Sócrates – Dizem, caro amigo, que os primeiros oráculos no templo de Zeus, em Donona [NT: Cidade grega, notável pelo templo em honra de Zeus], foram feitos por um carvalho! É evidente que os homens daquele tempo não eram tão sábios como os da nossa geração e, como eram ingénuos, o que um carvalho ou um rochedo dissessem tornava-se muito importante, conquanto lhes parecesse verídico! Mas para ti talvez interesse saber quem disse determinada coisa e de que terra é natural, pois não te basta verificar se essa coisa é verdadeira ou falsa!

Fedro – Tens razão para me castigares com essas palmatoadas mas, no que respeita à escrita, parece-me que o tebano tinha razão.

Sócrates – De onde se conclui o seguinte: se alguém expõe as suas regras de arte por escrito e um outro vem depois, que aceita esse testemunho escrito como sendo a expressão sólida de uma doutrina valiosa, esse alguém seria tolo, não entendendo o aviso de Ámon, e atribuiria maior valor às teorias escritas do que a um simples tópico para rememoração do assunto tratado no escrito, não é assim?

Fedro – Perfeitamente!

Sócrates – O maior inconveniente da escrita parece-se, caro Fedro, se bem julgo, com a pintura. As figuras pintadas têm atitudes de seres vivos mas, se alguém as interrrogar, manter-se-ão silenciosas, o mesmo acontecendo com os discursos: falam das coisas como se estas estivessem vivas, mas, se alguém os interroga, no intuito de obter um esclarecimento, limitam-se a repetir sempre a mesma coisa. Mais: uma vez escrito, um discurso chega a toda a parte, tanto aos que o entendem como aos que não podem compreendê-lo e, assim, nunca se chega a saber a quem serve e a quem não serve. Quando é menoscabado, ou justamente censurado, tem sempre necessidade da ajuda do seu autor, pois não é capaz de se defender nem de se proteger a si mesmo.

Fedro – Continuas a exprimir-te com toda a justeza!

Sócrates – Deveremos agora examinar uma outra espécie de discursos, irmã legítima da precedente, como nasce e em que é superior à outra espécie.

Fedro – A que espécie de discursos aludes e como surge?

Sócrates – Refiro-me ao discurso conscienciosamente escrito, com a sabedoria da alma, ao discurso capaz de se defender a si mesmo, e que sabe quando convém ficar calado e quando convém intervir.

Fedro – Por acaso estás a referir-te ao discurso vivo e animado do sábio, do qual todo o discurso poderia ser tomado com um simples simulacro?

Sócrates – Exactamente a esse! Diz-me então: um agricultor inteligente possui sementes às quais dá grande valor e de que pretende obter os frutos. Achas que esse agricultor pensaria em semear essas sementes durante o verão, nos jardins de Adónis [NT: Forma grega da palavra semítica Adon, o Senhor], e que esperaria vê-las desenvolvidas, tornadas plantas, no prazo de oito dias? Seria possível que assim acontecesse, mas a simples título de culto religioso, na altura das festas em honra de Adónis. Mas, quanto às sementes a que deseje dar um fim útil, semeá-las-á em terreno apropriado, utilizando a técnica da agricultura, e sentir-se-á muito feliz se, ao oitavo mês, colher todas as que semeara!

Fedro – É evidente, Sócrates, que esse homem faria ambas as coisas, uma com intenção séria, outra com intenção diversa!

Sócrates – Mas podemos nós dizer que o homem conhecedor do justo, do belo e do bom, dará às suas próprias sementes um uso menos avisado do que o agricultor?

Fedro – Por nada deste mundo!

Sócrates – Pois bem, é evidente que, quem conheça o justo, o bom e o belo não irá escrever tais coisas na água, nem usará um caniço para semear os seus discursos, os quais, além de impotentes para se defenderem por si mesmos, não servem para ensinar correctamente a verdade.

Fedro – Pelo menos não seria provável que o fizessem:

Sócrates – É evidente que não! Não deixará, naturalmente, de semear nos jardins literários, mas apenas por passatempo. Ao escrever, apenas procurará acumular para si mesmo um tesouro de rememoração para a velhice, pois os velhos esquecem tudo. Tirará também grande prazer em escrever para os que seguem no seu caminho e muito se alegrará vendo crescer essas tenras plantas. Enquanto uns se divertirão em banquetes e outros festins semelhantes, o homem de quem falo divertir-se-á com as coisas que referi.

Fedro – Que magnífico divertimento, Sócrates, quando comparado com essoutro género de divertimentos de que falaste! Que bela actividade a de um homem que se compraz escrevendo discursos sobre a Justiça e sobre outras virtudes!

Sócrates – Assim é, meu caro Fedro! Todavia, acho muito mais bela a discussão destas coisas quando se semeiam palavras de acordo com a arte dialéctica, uma vez encontrada uma alma digna para receber as sementes! Quando se plantam discursos que se tornam auto-suficientes e que, em vez de se tornarem estéreis, produzem sementes e fecundam outras almas, perpetuando-se e dando ao que os possui o mais alto grau de felicidade que um homem pode atingir!

Fedro – Isso que agora disseste é ainda mais belo!

Sócrates – Já que chegamos e um acordo, caro Fedro, podemos decidir agora sobre outro assunto?
(...)


Comentando esta passagem (cujo título e resumo recuperei), o professor e historiador luso-brasileiro Aníbal Bragança, da Universidade Federal Fluminense, escreve no seu blogue Ler, Escrever e Contar:

Certamente produto das dores da transição grega da oralidade para a sociedade letrada, esta passagem do Diálogo de Platão, Fedro ou Da beleza, é constantemente referida pelos estudiosos da escrita e da memória. Cremos ser ela também muito útil para se pensar nas relações entre uma certa sabedoria e a chamada erudição. Questões que certamente lhes interessam, rara e raro leitores, o que animou este neoblogueiro a fazer o registro abaixo, um pouco mais longo que o habitual, torcendo para que esta garrafa que o contém, antes de alcançar terra fértil, não se quebre de encontro a algum rochedo e tudo se perca nas águas do mar salgado. A tradução, logo se percebe, é portuguesa e castiça!

14 de outubro de 2008

Humor e censura no Estado Novo

Até 31 de Dezembro pode visitar-se na Bedeteca de Lisboa uma exposição de primeiras páginas de Os Ridículos - Bissemanário Humorístico, relativos ao período de 1933-1945. O interesse principal, além do conhecimento desta publicação pouco estudada, é que os organizadores a fazem acompanhar das provas enviadas para e recebidas dos serviços de Censura do regime caído em Abril de 1974.

13 de outubro de 2008

Para a História da Publicidade


O Caderno P2, do Público, anuncia o lançamento, hoje, do livro "Foi Você que Pediu uma História da Publicidade?", de Luís Trindade, com a chancela da Tinta da China. O jornal traz ainda uma peça sobre o assunto, cuja leitura se recomenda. Aqui. E Não só a leitura, também as imagens (que, essas, têm de ser consultadas no suporte impresso ou no site do jornal, caso seja assinante).
[A foto da capa colhi-a no blogue Pó dos Livros].

Medo das inovações tecnológicas

No blogue do jornalista e professor canadiano Florian Sauvageau,um texto de Francis Masse compara os temores que o computador suscitava há 20 anos entre os gráficos dos jornais e os temores que hoje existem entre muitos jornalistas.
Este tipo de recorrência faz, de algum modo, recordar o movimeento social conhecido por "luddites" que nos p+rincípios do século XIX levou operários têxteis a destruir máquinas (na altura modernas) olhadas como ameaçadoras do emprego.
Ler: Une comparaison intéressante.

12 de outubro de 2008

Facetas da vida de Chaplin relatadas pela filha

A revista Pública aproveitou a passagem de Geraldine Chaplin por Lisboa e pô-la a falar da sua infância e da importância do pai na sua vida. Alguns extractos:

"No meu primeiro dia de escola, havia uma rapariga. Ela era portuguesa e chamava-se Ana Maria. Eu olhei para ela e soube imediatamente que queria ser a sua melhor amiga. Fiquei fascinada e por isso fui ter com ela e tentei ser a sua melhor amiga. Ela falou-me sobre a sua village [aldeia] em Portugal. Eu nem sabia o significado da palavra "village". Perguntei-lhe o que era. Ela respondeu-me assim: "Uma village é um sítio em Portugal onde tens os teus avós!" E essa passou a ser a minha definição. Depois, fui perguntar aos meus pais: "Eu também tenho avós numa village em Portugal?" E eles responderam-me: "Hã? O único avô que te resta está em Nova Jérsia." Mas isso não me importou. Eu tinha os meus avós imaginários em Portugal e a minha village.
Isto foi em Hollywood, nos Estados Unidos (...).Isso tornou-se numa espécie de piada na família. Sempre que estava mais triste, o meu pai dizia: "There is Geraldine, in her portuguese village, with her saudade!"
(...)
"Com oito anos era fantástico ser filha do Charles Chaplin. Ser sua filha era ser filha do melhor e do mais amado homem do mundo.
Um dos piores momentos da minha infância foi quando eu e o meu irmão nos aventurámos para fora de casa, em Hollywood. No início do caminho para a nossa casa havia um grande portão e nós fomos até à rua. Estava uma senhora a passar e nós começámos: "Nós somos os filhos do Charles Chaplin! Nós somos os filhos do Charles Chaplin!" Horrível. A mulher respondeu: "Quem é o Charles Chaplin?" Nós fugimos para dentro de casa, corremos escadas acima, escondemo-nos no escuro, debaixo da cama, e pensámos: "Se calhar o nosso pai não é o homem mais conhecido do mundo! Se calhar ele não é o mais amado! Se calhar nada disto é verdade, se calhar é tudo uma grande mentira!"
Mas nós sempre soubemos que ele era o homem mais conhecido e o mais amado do mundo.
Ele contava histórias para adormecer. As crianças adoram ser assustadas e ele contava-nos histórias de terror. "Era uma vez, uma rapariga pequenina. Ela era muito simpática e bonita. Um dia, uma fada foi ter com ela e disse: 'Queres ir até a terra das fadas comigo?' Ela disse: 'Sim.' Então, foram as duas para a terra das fadas, entraram num palácio muito bonito, com muitas fadas. Depois da sala, foram para a cozinha e aí a fada disse: 'Está aqui um triturador de carne. Se olhares lá para dentro, vais ver uma estrela.' A menina meteu a cabeça no buraco, a fada empurrou-a lá para dentro e as outras fadas começaram a cantar: 'Salsichas, salsichas'..." Eu e os meus irmãos delirávamos com estas histórias!"
(...)
Ele fazia tudo em casa. Compunha a sua música no piano da sala, com um gravador ao seu lado, escrevia os seus guiões, a sua autobiografia. Estava sempre a trabalhar. Nós não o podíamos incomodar, andávamos com pés de algodão à volta de casa e dizíamos: "Chiu, o paizinho está a trabalhar."
(...)
Era um homem político. Foi banido dos Estados Unidos, mas eu e os meus irmãos nunca soubemos de nada porque o meu pai e a minha mãe foram fantásticos. Nós sabíamos que íamos para Inglaterra, mas não sabíamos que não íamos voltar.
Foi apenas com 14 anos que alguém na escola me disse: "Sabes uma coisa? O teu pai é um comunista." E eu respondi: "Oh, a sério?" Eu não queria acreditar. Estava tão orgulhosa que o meu pai fosse um comunista, era a melhor coisa que se poderia ser no fim dos anos 50. Estava numa escola católica e, de repente, era uma rebelde: o meu pai era um comunista! Ele não era um card carrying communist, mas tinha um enorme sentido de injustiça; da forma injusta como o mundo em que vivíamos era governado. Hoje seria ainda pior.
Ele nunca nos falava das coisas directamente, apresentava-as e deixava-nos descobri-las e julgá-las. Levava-nos em viagens pelo mundo, dois de cada vez.
Mandou-nos para uma escola católica, apesar de ser ateu. Disse: "Onde se tem a melhor disciplina? Então é para lá que eles vão."
Nunca tinha ouvido falar de Deus até chegar à escola. Quando lá cheguei, pensei: "Deus é tão poderoso, deve ser o director da escola!" Depois falei com o meu pai e perguntei: "Porque não acreditas em Deus?" Ele respondeu: "Oh Geraldine, eu queria, eu gostava muito. Mas não acredito!"
(...)
Comigo e com as minhas irmãs era muito rígido. Mais do que com os rapazes. Era muito vitoriano em relação às filhas. Acho que, por ele gostar de mulheres novas, via todos os homens à nossa volta como predadores. Ele era muito rígido mas isso foi bom. Aprendemos a disciplina e não há nada de errado nisso.
Charlot é o meu herói. Representa tudo aquilo em que eu acredito. É o tipo pequeno que consegue sair sempre por cima, que se estafa completamente, mas que nunca perde a sua dignidade e é um romântico. Por isso, sim. É mesmo o meu herói. Eu nunca conheci o Charlot porque quando nasci o meu pai já tinha o cabelo branco e era mais velho. Sempre soube que era o meu pai, mas o Charlot era alguém que estava no ecrã e não alguém que andava lá por casa.(...)


In "O meu pai, o homem mais amado do mundo", texto de Alexandre Soares, Público de
12.10.2008.

30 de setembro de 2008

"1808 - 2008. Dois Séculos de Imprensa"

"1808 - 2008. Dois Séculos de Imprensa" é o título do colóquio que decorre quinta e sexta-feira (dias 2 e 3) na Universidade de Coimbra. A iniciativa é organizada pelo Grupo de Investigação Estudos de Comunicação e Educação e coordenada por Isabel Vargues, docente da Universidade de Coimbra e visa "aprofundar temas relacionados com a história da imprensa e dos meios de comunicação nos séculos XIX e XX bem como apontar novos desafios".

29 de setembro de 2008

Bem - vindos!

No momento em que se inicia um novo ano lectivo, saúdo aqueles que entram no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Felicito-os pelas classificações de acesso obtidas (16,28 foi a classificação do último a entrar) e desejo um tempo de grandes aprendizagens para uma futura profissão e, sobretudo para a vida.
Esta é uma unidade curricular - o nome que o processo de Bolonha trouxe para as antigas disciplinas - que olha para o passado sem ser passadista. Pelo contrário, olha para o passado da comunicação e dos media para que melhor possamos entender as questões de hoje - de onde vimos e para onde vamos.
Este é um blogue de apoio. Aqui encontrarão os alunos notas, sugestões de leitura, pistas de trabalho... E como a web é um espaço aberto, o blogue fica igualmente aberto a todas as sugestões da turma e de todos os interessados nestes temas.

9 de setembro de 2008

Google quer digitalizar 200 anos de colecções de jornais de todo o mundo

O Google acaba de anunciar mais uma iniciativa de possível significado histórico: fazer parcerias com empresas responsáveis de jornais, em todo o mundo, com vista a digitalizar as respectivas colecções, tornando-as acessíveis online.
De acordo com o blogue deste grupo de pesquisa na Internet, será possível, através do Google News Archive, consultar as colecções não apenas pesquisando por temas, mas lendo edições completas tal como foram publicadas.
A iniciativa vem conferir uma outra escala a alguns passos já dados pela empresa desde 2006, com o New York Times e Washington Post, dos EUA, e com o Quebec Chronicle-Telegraph,o mais antigo jornal da América do Norte, que se publica há 244 anos.

1 de setembro de 2008

Revista Panorama digitalizada

Um órgão interessante para conhecer o ambiente da elite cultural portuguesa da primeira metade do século XIX é a revista O Panorama - Jornal Literário e Instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis. A primeira e segunda séries acabam de ser digitalizadas e disponibilizadas na Internet pela Hemeroteca Digital de Lisboa.
Com bastante impacte em Lisboa e com distribuição fora dos circuitos lisboetas, incluindo no estrangeiro, nela colaboraram nomes como Alexandre Herculano (que foi um dos fundadores e directores) , mas também António Feliciano de Castilho, Henriques Nogueira, Silvestre Pinheiro Ferreira, entre outros. A revista contou também com os melhores desenhadores e gravadores nacionais. As duas séries desta publicação semanal que saía aos sábados podem ser consultadas aqui. Uma ficha histórica sobre esta publicação é consultável aqui.

19 de julho de 2008

Ecos da "questão iconoclasta"

"No século VIII, no quadro da ameaça militar e religiosa do islão a Bizâncio, a tradição cristã viu-se confrontada com a pureza radical do monoteísmo islâmico e a sua proibição das imagens. Os imperadores bizantinos mandaram destruir as imagens e os seus defensores foram perseguidos como idólatras. Embora esta luta dos iconoclastas tenha acabado com a vitória dos iconódulos (veneradores das imagens), pois Jesus Cristo é a imagem visível de Deus, nunca deveria esquecer-se que Deus é infinitamente transcendente e, se o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, Deus não é à imagem do Homem.(...)"
Anselmo Borges, in Diário de Notícias, 19.7.2008

11 de julho de 2008

Globalização: perspectiva histórica

"The term globalization has only become commonplace in the last two decades, and academic commentators who employed the term as late as the 1970s accurately recognized the novelty of doing so (Modelski, 1972). At least since the advent of industrial capitalism, however, intellectual discourse has been replete with allusions to phenomena strikingly akin to those that have garnered the attention of recent theorists of globalization. Nineteenth and twentieth-century philosophy, literature, and social commentary include numerous references to an inchoate yet widely shared awareness that experiences of distance and space are inevitably transformed by the emergence of high-speed forms of transportation (for example, rail and air travel) and communication (the telegraph or telephone) that dramatically heighten possibilities for human interaction across existing geographical and political divides (Harvey, 1989; Kern, 1983). Long before the introduction of the term globalization into recent popular and scholarly debate, the appearance of novel high-speed forms of social activity generated extensive commentary about the compression of space.

Writing in 1839, an English journalist commented on the implications of rail travel by anxiously postulating that as distance was “annihilated, the surface of our country would, as it were, shrivel in size until it became not much bigger than one immense city” (Harvey, 1996: 242). A few years later, Heinrich Heine, the émigré German-Jewish poet, captured this same experience when he noted: “space is killed by the railways. I feel as if the mountains and forests of all countries were advancing on Paris. Even now, I can smell the German linden trees; the North Sea's breakers are rolling against my door” (Schivelbusch, 1978: 34). Another German émigré, the socialist theorist Karl Marx, in 1848 formulated the first theoretical explanation of the sense of territorial compression that so fascinated his contemporaries. In Marx's account, the imperatives of capitalist production inevitably drove the bourgeoisie to “nestle everywhere, settle everywhere, and establish connections everywhere.” The juggernaut of industrial capitalism constituted the most basic source of technologies resulting in the annihilation of space, helping to pave the way for “intercourse in every direction, universal interdependence of nations,” in contrast to a narrow-minded provincialism that had plagued humanity for untold eons (Marx, 1979 [1848]: 476). Despite their ills as instruments of capitalist exploitation, new technologies that increased possibilities for human interaction across borders ultimately represented a progressive force in history. They provided the necessary infrastructure for a cosmopolitan future socialist civilization, while simultaneously functioning in the present as indispensable organizational tools for a working class destined to undertake a revolution no less oblivious to traditional territorial divisions than the system of capitalist exploitation it hoped to dismantle.

European intellectuals have hardly been alone in their fascination with the experience of territorial compression, as evinced by the key role played by the same theme in early twentieth-century American thought. In 1904, the literary figure Henry Adams diagnosed the existence of a “law of acceleration,” fundamental to the workings of social development, in order to make sense of the rapidly changing spatial and temporal contours of human activity. Modern society could only be properly understood if the seemingly irrepressible acceleration of basic technological and social processes was given a central place in social and historical analysis (Adams, 1931 [1904]). John Dewey argued in 1927 that recent economic and technological trends implied the emergence of a “new world” no less noteworthy than the opening up of America to European exploration and conquest in 1492. For Dewey, the invention of steam, electricity, and the telephone offered formidable challenges to relatively static and homogeneous forms of local community life that had long represented the main theatre for most human activity. Economic activity increasingly exploded the confines of local communities to a degree that would have stunned our historical predecessors, for example, while the steamship, railroad, automobile, and air travel considerably intensified rates of geographical mobility. Dewey went beyond previous discussions of the changing temporal and spatial contours of human activity, however, by suggesting that the compression of space posed fundamental questions for democracy. Dewey observed that small-scale political communities (for example, the New England township), a crucial site for the exercise of effective democratic participation, seemed ever more peripheral to the great issues of an interconnected world. Increasingly dense networks of social ties across borders rendered local forms of self-government ineffective. Dewey wondered, “How can a public be organized, we may ask, when literally it does not stay in place?” (Dewey, 1954 [1927]: 140). To the extent that democratic citizenship minimally presupposes the possibility of action in concert with others, how might citizenship be sustained in a social world subject to ever more astonishing possibilities for movement and mobility? New high-speed technologies attributed a shifting and unstable character to social life, as demonstrated by increased rates of change and turnover in many arenas of activity (most important perhaps, the economy) directly affected by them, and the relative fluidity and inconstancy of social relations there. If citizenship requires some modicum of constancy and stability in social life, however, did not recent changes in the temporal and spatial conditions of human activity bode poorly for political participation? How might citizens come together and act in concert when contemporary society's “mania for motion and speed” made it difficult for them even to get acquainted with one another, let alone identify objects of common concern? (Dewey, 1954 [1927]: 140).

The unabated proliferation of high-speed technologies is probably the main source of the numerous references in intellectual life since 1950 to the annihilation of distance. The Canadian cultural critic Marshall McLuhan made the theme of a technologically based “global village,” generated by social “acceleration at all levels of human organization,” the centerpiece of an anxiety-ridden analysis of new media technologies in the 1960s (McLuhan, 1964: 103). Arguing in the 1970s and ‘80s that recent shifts in the spatial and temporal contours of social life exacerbated authoritarian political trends, the French social critic Paul Virilio seemed to confirm many of Dewey's darkest worries about the decay of democracy. According to his analysis, the high-speed imperatives of modern warfare and weapons systems strengthened the executive and debilitated representative legislatures. The compression of territory thereby paved the way for executive-centered emergency government (Virilio, 1986 [1977]). But it was probably the German philosopher Martin Heidegger who most clearly anticipated contemporary debates about globalization. Heidegger not only described the “abolition of distance” as a constitutive feature of our contemporary condition, but he linked recent shifts in spatial experience to no less fundamental alterations in the temporality of human activity: “All distances in time and space are shrinking. Man now reaches overnight, by places, places which formerly took weeks and months of travel” (Heidegger, 1971 [1950]: 165). Heidegger also accurately prophesied that new communication and information technologies would soon spawn novel possibilities for dramatically extending the scope of virtual reality: “Distant sites of the most ancient cultures are shown on film as if they stood this very moment amidst today's street traffic…The peak of this abolition of every possibility of remoteness is reached by television, which will soon pervade and dominate the whole machinery of communication” (Heidegger, 1971 [1950]: 165). Heidegger's description of growing possibilities for simultaneity and instantaneousness in human experience ultimately proved no less apprehensive than the views of many of his predecessors. In his analysis, the compression of space increasingly meant that from the perspective of human experience “everything is equally far and equally near.” Instead of opening up new possibilities for rich and multi-faceted interaction with events once distant from the purview of most individuals, the abolition of distance tended to generate a “uniform distanceless” in which fundamentally distinct objects became part of a bland homogeneous experiential mass (Heidegger, 1971 [1950]: 166). The loss of any meaningful distinction between “nearness” and “distance” contributed to a leveling down of human experience, which in turn spawned an indifference that rendered human experience monotonous and one-dimensional."

Globalization in Stanford Encyclopedia of Philosophy

10 de julho de 2008

Apologia dos Tipógrafos

Benjamin Franklin é uma daquelas figuras históricas que não deixará de surpreender quem procure aproximar-se dela. Foi inventor, político, inovador social, diplomata, cientista. Mas aquilo de que ele se orgulhava mesmo era de ser tipógrafo. Quase em jeito de auto-defesa, escreveu, em 27 de Maio de 1731, no jornal The Pennsylvania Gazette, esta
Apology for Printers:


Being frequently censur'd and condemn'd by different Persons for printing Things which they say ought not to be printed, I have sometimes thought it might be necessary to make a standing Apology for my self, and publish it once a Year, to be read upon all Occasions of that Nature. Much Business has hitherto hindered the execution of this Design; but having very lately given extraordinary Offence by printing an Advertisement with a certain "N.B." at the End of it, I find an Apology more particularly requisite at this Juncture, tho' it happens when I have not yet Leisure to write such a thing in the proper Form, and can only in a loose manner throw those Considerations together which should have been the Substance of it.

I request all who are angry with me on the Account of printing things they don't like, calmly to consider these following Particulars

1. That the Opinions of Men are almost as various as their Faces; an Observation general enough to become a common Proverb, "So many Men so many Minds."

2. That the Business of Printing has chiefly to do with Mens Opinions; most things that are printed tending to promote some, or oppose others.

3. That hence arises the peculiar Unhappiness of that Business, which other Callings are no way liable to; they who follow Printing being scarce able to do any thing in their way of getting a Living, which shall not probably give Offence to some, and perhaps to many; whereas the Smith, the Shoemaker, the Carpenter, or the Man of any other Trade, may work indifferently for People of all Persuasions, without offending any of them: and the Merchant may buy and sell with Jews, Turks, Hereticks, and Infidels of all sorts, and get Money by every one of them, without giving Offence to the most orthodox, of any sort; or suffering the least Censure or Ill-will on the Account from any Man whatever.

4. That it is as unreasonable in any one Man or Set of Men to expect to be pleas'd with every thing that is printed, as to think that nobody ought to be pleas'd but themselves.

5. Printers are educated in the Belief, that when Men differ in Opinion, both Sides ought equally to have the Advantage of being heard by the Publick; and that when Truth and Error have fair Play, the former is always an overmatch for the latter: Hence they chearfully serve all contending Writers that pay them well, without regarding on which side they are of the Question in Dispute.

6. Being thus continually employ'd in serving all Parties, Printers naturally acquire a vast Unconcernedness as to the right or wrong Opinions contain'd in what they print; regarding it only as the Matter of their daily labour: They print things full of Spleen and Animosity, with the utmost Calmness and Indifference, and without the least Ill-will to the Persons reflected on; who nevertheless unjustly think the Printer as much their Enemy as the Author, and join both together in their Resentment.

7. That it is unreasonable to imagine Printers approve of every thing they print, and to censure them on any particular thing accordingly; since in the way of their Business they print such great variety of things opposite and contradictory. It is likewise as unreasonable what some assert, "That Printers ought not to print any Thing but what they approve;" since if all of that Business should make such a Resolution, and abide by it, an End would thereby be put to Free Writing, and the World would afterwards have nothing to read but what happen'd to be the Opinions of Printers.

8. That if all Printers were determin'd not to print any thing till they were sure it would offend no body, there would be very little printed.

9. That if they sometimes print vicious or silly things not worth reading, it may not be because they approve such things themselves, but because the People are so viciously and corruptly educated that good things are not encouraged. I have known a very numerous Impression of "Robin Hood's Songs" go off in this Province at 2"s". per Book, in less than a Twelvemonth; when a small Quantity of "David's Psalms" (an excellent Version) have lain upon my Hands above twice the Time.

10. That notwithstanding what might be urg'd in behalf of a Man's being allow'd to do in the Way of his Business whatever he is paid for, yet Printers do continually discourage the Printing of great Numbers of bad things, and stifle them in the Birth. I my self have constantly refused to print any thing that might countenance Vice, or promote Immorality; tho' by complying in such Cases with the corrupt Taste of the Majority, I might have got much Money. I have also always refus'd to print such things as might do real Injury to any Person, how much soever I have been solicited, and tempted with Offers of great Pay; and how much soever I have by refusing got the Ill-will of those who would have employ'd me. I have heretofore fallen under the Resentment of large Bodies of Men, for refusing absolutely to print any of their Party or Personal Reflections. In this Manner I have made my self many Enemies, and the constant Fatigue of denying is almost insupportable. But the Publick being unacquainted with all this, whenever the poor Printer happens either through Ignorance or much Persuasion, to do any thing that is generally thought worthy of Blame, he meets with no more Friendship or Favour on the above Account, than if there were no Merit in't at all. Thus, as "Waller" says,

"Poets loose half the Praise they would have got Were it but known what they discreetly blot;"

Yet are censur'd for every bad Line found in their Works with the utmost Severity.

I come now to the particular Case of the "N.B." above-mention'd, about which there has been more Clamour against me, than ever before on any other Account. -- In the Hurry of other Business an Advertisement was brought to me to be printed; it signified that such a Ship lying at such a Wharff, would sail for "Barbadoes" in such a Time, and that Freighters and Passengers might agree with the Captain at such a Place; so far is what's common: But at the Bottom this odd Thing was added, N.B. "No Sea Hens nor Black Gowns will be admitted on any Terms." I printed it, and receiv'd my Money; and the Advertisement was stuck up round the Town as usual. I had not so much Curiosity at that time as to enquire the Meaning of it, nor did I in the least imagine it would give so much Offence. Several good Men are very angry with me on this Occasion; they are pleas'd to say I have too much Sense to do such things ignorantly; that if they were Printers they would not have done such a thing on any Consideration; that it could proceed from nothing but my abundant Malice against Religion and the Clergy: They therefore declare they will not take any more of my Papers, nor have any farther Dealings with me; but will hinder me of all the Custom they can. All this is very hard!

I believe it had been better if I had refused to print the said Advertisement. However, 'tis done and cannot be revok'd. I have only the following few Particulars to offer, some of them in my Behalf, by way of Mitigation, and some not much to the Purpose; but I desire none of them may be read when the Reader is not in a very good Humour.

1. That I really did it without the least Malice, and imagin'd the "N.B." was plac'd there only to make the Advertisement star'd at, and more generally read.

2. That I never saw the Word "Sea-Hens" before in my Life; nor have I yet ask'd the meaning of it; and tho' I had certainly known that "Black Gowns" in that Place signified the Clergy of the Church of "England", yet I have that confidence in the generous good Temper of such of them as I know, as to be well satisfied such a trifling mention of their Habit gives them no Disturbance.

3. That most of the Clergy in this and the neighbouring Provinces, are my Customers, and some of them my very good Friends; and I must be very malicious indeed, or very stupid, to print this thing for a small Profit, if I had thought it would have given them just Cause of Offence.

4. That if I have much Malice against the Clergy, and withal much Sense; 'tis strange I never write or talk against the Clergy my self. Some have observed that 'tis a fruitful Topic, and the easiest to be witty upon of all others. I can print any thing I write at less Charge than others; yet I appeal to the Publick that I am never guilty this way, and to all my Acquaintance as to my Conversation.

5. That if a Man of Sense had Malice enough to desire to injure the Clergy, this is the foolishest Thing he could possibly contrive for that Purpose.

6. That I got Five Shillings by it.

7. That none who are angry with me would have given me so much to let it alone.

8. That if all the People of different Opinions in this Province would engage to give me as much for not printing things they don't like, as I can get by printing them, I should probably live a very easy Life; and if all Printers were every where so dealt by, there would be very little printed.

9. That I am oblig'd to all who take my Paper, and am willing to think they do it out of meer Friendship. I only desire they would think the same when I deal with them. I thank those who leave off, that they have taken it so long. But I beg they would not endeavour to dissuade others, for that will look like Malice.

10. That 'tis impossible any Man should know what he would do if he was a Printer.

11. That notwithstanding the Rashness and Inexperience of Youth, which is most likely to be prevail'd with to do things that ought not to be done; yet I have avoided printing such Things as usually give Offence either to Church or State, more than any Printer that has followed the Business in this Province before.

12. And lastly, That I have printed above a Thousand Advertisements which made not the least mention of "Sea-Hens" or "Black Gowns"; and this being the first Offence, I have the more Reason to expect Forgiveness.

I take leave to conclude with an old Fable, which some of my Readers have heard before, and some have not.

"A certain well-meaning Man and his Son, were travelling towards a Market Town, with an Ass which they had to sell. The Road was bad; and the old Man therefore rid, but the Son went a-foot. The first Passenger they met, asked the Father if he was not ashamed to ride by himself, and suffer the poor Lad to wade along thro' the Mire; this induced him to take up his Son behind him: He had not travelled far, when he met others, who said, they were two unmerciful Lubbers to get both on the Back of that poor Ass, in such a deep Road. Upon this the old Man gets off, and let his Son ride alone. The next they met called the Lad a graceless, rascally young Jackanapes, to ride in that Manner thro' the Dirt, while his aged Father trudged along on Foot; and they said the old Man was a Fool, for suffering it. He then bid his Son come down, and walk with him, and they travell'd on leading the Ass by the Halter; 'till they met another Company, who called them a Couple of sensless Blockheads, for going both on Foot in such a dirty Way, when they had an empty Ass with them, which they might ride upon. The old Man could bear no longer; My Son, said he, it grieves me much that we cannot please all these People; Let us throw the Ass over the next Bridge, and be no farther troubled with him."

Had the old Man been seen acting this last Resolution, he would probably have been call'd a Fool for troubling himself about the different Opinions of all that were pleas'd to find Fault with him: Therefore, tho' I have a Temper almost as complying as his, I intend not to imitate him in this last Particular. I consider the Variety of Humours among Men, and despair of pleasing every Body; yet I shall not therefore leave off Printing. I shall continue my Business. I shall not burn my Press and melt my Letters.


[Cf, também: Benjamin Franklin, an extraordinary life, an electric mind, um trabalho da PBS]

3 de julho de 2008

Do periodismo ao fluxo noticioso

"(...) Neste tipo de indagação genética convém sempre prestar atenção à etimologia. Jornalismo vem do francês journal, relacionado a pulsação diária – quotidien é sinônimo de jornal diário. Periodismo, em espanhol, é um termo mais preciso porque o intervalo entre as emissões não é necessariamente diário, pode ser semanal, quinzenal ou mensal. Acontece que a informação digital oferecida nos portais noticiosos não é periódica, é permanente, flui continuamente. É o usuário quem estabelece o ritmo da utilização, ao contrário dos periódicos propriamente ditos nos quais o ritmo comanda o usuário.(...)".

Alberto Dines, in
Darwinismo na Mídia - Exercícios especulativos sobre a evolução e extinção das espécies, in Observatório da Imprensa, 1.7.2008

19 de junho de 2008

De relationibus novellis

De relationibus novellis é o título da primeira tese sobre jornalismo apresentada numa universidade, neste caso, a de Leipzig, na Alemanha. O seu autor é Tobias Peucer e o facto aconteceu em 1690, há, portanto, quase 320 anos. A tese é está traduzida para português, tendo sido publicada pela Revista Estudos em Jornalismo e Mídia, da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. É "composta por 29 parágrafos que traçam uma comparação entre o Jornalismo e a História. Analisa os tipos de relatos utilizados pela cultura ocidental desde a antiguidade,
identificando o jornalismo com a perspectiva do singular. Discute a questão da autoria, da noticiabilidade, da verdade e da credibilidade; propõe critérios de seleção e restrições ao que deve ser publicado; discute a forma e o estilo dos periódicos. Na presente versão, a tese é acompanhada por um preâmbulo do tradutor brasileiro Paulo da Rocha Dias".

9 de junho de 2008

Os laços com o Brasil

No ano do bicentenário da fuga da corte e do rei de Lisboa para o Rio, por efeito das invasões francesas, acaba de ser publicada uma História da Imprensa no Brasil, uma obra colectiva organizada por Tania Regina de Luca e Ana Luiza Martins. O motivo é linear: é que a instalação da família real do outro lado do Atlântico marcou também a instalação da publicação sistemática do periodismo através do meio impresso.
Como a editora, além do Índice, disponibiliza online o primeiro capítulo, intitulado "Os primeiros passos da palavra impressa", isso dá para perceber como é que a administração portuguesa funcionava relativamente às colónias e como se desenvolvia a Imprensa e o sistema de censura.
(via: Intermezzo)

27 de maio de 2008

Sidney Pollack (1934 - 2008)


Chega-nos a notícia da morte do realizador Sidney Pollack, aos 73 anos. Claro que Pensamos logo em África Minha, mas não esquecemos, no âmbito mediático, o seu filme "Absence of Malice", que em Portugal circulou com o título "A Calúnia", lançado em 1981 e tendo Paul Newman e Sally Field como principais protagonistas.
Nele Pollack coloca-nos perante uma das grandes ameaças ao jornalismo, mesmo ainda hoje, mesmo ao jornalismo cumpridor e bem intencionado: a manipulação dos jornalistas pelas fontes.

26 de maio de 2008

Cinema e jornalismo

A cinematografia é uma fonte preciosa para perceber talvez não tanto a história do jornalismo, mas as percepções que os cineastas foram fazendo da profissão e dos media.
Alguns filmes tornaram-se lendários neste âmbito e são vários os sítios na Internet que procuram sistematizar momentos, películas e autores.
O Observatório da Imprensa tem um espaço dedicado a este tema, organizado por décadas, intitulado precisamente "Jornalismo e cinema". Da autoria de Joaquim Vieira a apresentação deste espaço considera que

Jornalismo e cinema são duas práticas narrativas com afinidades, embora uma lide com a realidade e a outra com a ficção. O que as aproxima é o potencial dramático que a segunda entrevê na primeira. Para quem se interessa por estudar esta relação, elaborámos uma lista de filmes de ficção que abordam o jornalismo, com links (quando existam) para se saber mais sobre cada um deles. Em alguns casos, que pretendemos destacar, fazemos também a nossa apreciação.

21 de maio de 2008

Colecção de livros para leitura online

A Questia proporciona uma selecção de livros sobre História do Jornalismo (sobretudo no espaço anglo-saxónico) cuja leitura pode ser efectuada online. AQUI.

4 de maio de 2008

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa [3 de Maio]


O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi instituído com o objectivo de valorizar um direito fundamental da pessoa humana, a liberdade de expressão, que tem na imprensa escrita um dos seus veículos fundamentais. Para assinalar este dia, a Hemeroteca Municipal de Lisboa, no quadro da sua missão junto do público em geral, e dos estudantes e investigadores em particular, cria uma nova secção na Hemeroteca Digital, a que chamou Leis de Imprensa, e que tem por objectivo reunir os diplomas legislativos mais importantes publicados entre 1820 e 1974. Começamos com dois diplomas publicados durante o governo de João Franco, a Lei de 11 de Abril de 1907, considerada pelo monárquico Júlio de Vilhena como um “ignóbil ferrolho para manietar vilmente a liberdade de pensamento”, e o Decreto de 21 de Junho do mesmo ano, que entregava os jornais ao arbítrio dos governadores civis. Dois documentos importantes para a história da imprensa periódica portuguesa, agora disponíveis em linha, aqui.

Via: site do Clube de Jornalistas

1 de maio de 2008

Bibliografia sobre jornalismo antes de 1974

Indicadores de produção bibliográfica portuguesa sobre jornalismo até à Revolução de 25 de Abril de 1974, de Jorge Pedro Sousa, Nair Silva, Mônica Delicato, Gabriel Silva, Carlos Duarte
Este texto insere-se no projecto “Teorização do Jornalismo em Portugal: Das Origens ao 25 de Abril de 1974″[1], no âmbito do qual procurámos inventariar os livros e similares (ou seja, obras “individuais”) que teorizam sobre jornalismo editados em Portugal até à Revolução de 25 de Abril de 1974 e que são da autoria de autores portugueses.
(Uma versão em pdf pode ser também consultada e descarregada).

Relembrando o contexto histórico: Portugal 1644 – 1974, de Jorge Pedro Sousa
O tipo de teorização sobre jornalismo que se desenvolveu em Portugal só pode ser entendida tendo em consideração a evolução do contexto histórico. Aliás, o que se disse sobre Portugal seria válido para qualquer outro país do mundo. Ora, tendo em consideração que o mais antigo documento português que se encontrou onde se reflecte sobre jornalismo é de 1644 (Azevedo, 1644), deve-se, em consequência, relembrar, igualmente, que o mesmo foi produzido em pleno contexto das guerras pela Restauração da Independência, depois do golpe de Estado que afastou o Rei D. Filipe III (D. Filipe IV de Espanha) e colocou no trono o Duque de Bragança, sob o nome de D. João IV. A perspectiva de Azevedo (1644) é, assim, a de um adepto da Restauração que procura repor a verdade contra as notícias alegadamente falsas das publicações espanholas e da Gazeta de Génova.

21 de abril de 2008

Para a história da Internet

É verdade: parece que a Internet é apenas presente e futuro. Mas o tempo é que passa depressa. O rasto que ela já deixa para trás permite (e até obriga) a olhar de um ponto de vista histórico. Este site é boa base para aceder a documentos e a momentos desse percurso revolucionário.
A epígrafe do site - que remonta a 1968, já lá vão 40 (quarenta) anos - reza assim:
The collection of people, hardware, and software ­- the multiaccess computer together with its local community of users - will become a node in a geographically distributed computer network. Let us assume for a moment that such a network has been formed.

J.C.R. Licklider, Robert Taylor, The Computer as a Communication Device, 1968.

20 de abril de 2008

O Jornalismo e a rádio

No Infoinclusões, Vítor Soares recorda tempos não muito distantes em que na rádio não havia propriamente jornalistas. Começa assim:
Quem se lembra dos anos 60 do século passado sabe que não havia jornalistas na rádio. Havia locutores (noticiaristas) que liam as notícias dos jornais, correndo até aquele exemplo extremo de um locutor que, a dada altura, terá dito: “O Chefe de Estado, como se pode ver na figura ao lado, inaugurou ontem mais uma unidade industrial…”

19 de abril de 2008

A Prensa de Gutenberg segundo a BBC

Stephen Fry é o autor de um trabalho interessante difundido pela BBC e dedicado ao processo que conduziu à criação da imprensa de Gutenberg, no século XV. Fry não se limitou, porém, a visitar locais, falar com especialistas, mostrar imagens. Conseguiu também reunir artesãos /artistas que construiram e puseram a funcionar uma prensa idêntica à original.
O vídeo, dividido em seis partes, cad uma com cerca de dez minutos, está disponível no YouTube. [A fonte está aqui).
Se, entretanto, alguém pretender ver essas partes em conjunto, poderá fazê-lo aqui.







17 de abril de 2008

Hemerotecas digtais

Biblioteca Digital Nacional
Projecto da Biblioteca Nacional, a Biblioteca Digital Nacional disponibiliza inúmeras obras em formato digital (PDF, JPG ou GIF). No que respeita à imprensa periódica, actualmente são disponibilizadas 33 publicações.

Hemeroteca Digital de Lisboa

"Sítio da Hemeroteca Municipal de Lisboa (HML), tem por objectivo a construção duma biblioteca digital de jornais e revistas caídos em domínio público. Com este projecto pretende-se criar um sítio de referência para a consulta em linha e difusão pública do universo fascinante da imprensa periódica portuguesa". Disponibiliza, em formato HTML e PDF, "diversos títulos de publicações periódicas, com destaque para as colecções digitais de periódicos do fundo local e histórico, completadas com fichas históricas de apresentação dos jornais e revistas, raridades bibliográficas relacionadas com a imprensa escrita, e bibliografia de referência para o estudo e consulta do acervo bibliográfico da HML".

Biblioteca Digital da Imprensa Periódica Vilacondense
A Biblioteca Municipal José Régio de Vila do Conde oferece inúmeras publicações do século XIX, como O Correio do Ave (1871), Troça ao Pina (1889), As Vespas (1890), ou O Partidário (1899), bem como outros jornais do século XX, sendo o mais recente o Suplemento do Jornal de Vila do Conde – Caderno de Cultura (1979). É possível a pesquisa por título, data, director e número da publicação.

►Estrangeiras

Emeroteca Digitale
A Hemeroteca digital da Biblioteca Nazionale Braidenseo disponibiliza alguns periódicos de interesse para a História e Cultura italianas que compõem o acervo da Biblioteca e de outras entidades envolvidas no projecto. Actualmente são disponibilizadas 694 textos, prefazendo cerca de um milhão e meio de páginas, divididas nos seguintes núcleos: EPOCA - Emeroteca politica e culturale antifascista; EVA - Emeroteca virtuale aperta e GEA - Giornali & altro. Para visualizar as obras é necessário o software, gratuito, DjVu.

Hemeroteca da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
A Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes disponibiliza na sua Hemeroteca edições digitalizadas de revistas científicas e culturais de referência, versando inúmeras áreas temáticas, criadas pelas bibliotecas das culturas hispânicas envolvidas neste projecto. Permite a pesquisa em índices de revistas e a pesquisa avançada no catálogo de publicações periódicas, bem como por palavra e por século.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional de Espanha
Disponibiliza cerca de 500.000 páginas digitalizadas de 143 títulos que compõem a colecção de imprensa histórica espanhola, publicados entre 1772 e 1933. Permite a pesquisa, simples e avançada, por palavra em ficheiros PDF. Para além da apresentação do projecto, oferece uma lista de outras hemerotecas digitais nacionais. Oferece ainda a secção Recursos Electrónicos, bem como acesso ao catálogo da Biblioteca Nacional de Espanha.

Internet Library of Early Journals
Projecto do Electronic Libraries Programme (eLib), desenvolvido pelas Universidades de Birmingham, Leeds, Manchester e Oxford, disponibiliza digitalizações das seguintes publicações: Annual Register (1758), Blackwood's Edinburgh Magazine (1817); Gentleman's Magazine (1731); Notes and Queries (1849); Philosophical Transactions of the Royal Society (1757) e The Builder (1843). Permite a pesquisa textual e em índices de algumas publicações.

Utah Digital Newspapers
Esta Hemeroteca, um projecto desenvolvido pela Universidade do Utah, permite a consulta e pesquisa de jornais por edição, termos, títulos de artigos, bem como por casamentos, nascimentos e obituários. Disponibiliza inúmeros jornais norte-americanos, Garfield County News (1913-1943); Rich County News (1896-1945); Broad Ax (1895-1901); The Daily Enquirer (1881-1897); Morgan County News (1910-1954); Tooele Transcript Bulletin (1894-1924), Roosevelt Standard (1914-1940), Ogden Standard (1923-1927); Davis County Clipper (1925-1938); Moab Times Independent (1933-1937); Park Record (1936-1947), entre muitos outros.

(Informação colhida no site da Hemeroteca Digital de Lisboa)