22 de dezembro de 2009

Para a história do olhar no Ocidente

No Transmedia, Mara Balestrini alude a uma passagem da obra de Regis Debray "Vida y muerte de la imagen":
“La evolución conjunta de las técnicas y de las creencias nos va a conducir a señalar tres momentos de la historia de lo visible: la mirada mágica, la mirada estética y, por último, la mirada económica. La primera suscitó el ídolo; la segunda el arte; la tercera lo visual” (Debray, 1994: 39).
A este propósito refere "las tres mediasferas que componen la historia de la mirada en occidente" que estão "claramenta vinculadas a cambios tecnológicos que propiciaron alteraciones en los usos culturales". São elas a logosfera, a grafosfera e a videosfera.
Refere a autora que "así como sucede con los medios de comunicación, las mediasferas no se sustituyen sino que se acoplan y pueden convivir en espacios y tiempos semejantes, se encadenan y cada una está en germen de su sucesora. Cada una es parte de una cosmovisión, una ideología y un nuevo “horizonte de la mirada”.

10 de dezembro de 2009

A publicidade no tempo


Para a história da publicidade, em Portugal e no plano internacional, ver este post do blog Comunicação Aplicada e estes do blog Publicidade (Ponto).
(NB - A propósito da imagem, que aqui chega via este último blog, importa justificar: Fernando Pessoa criou para a Agência Hora, fundada em 1927 e considerada a primeira de Portugal - um anúncio à Coca Cola que ainda hoje se cita, mesmo que transposto para outras situações e contextos: "Primeiro estranha-se e depois entranha-se"]

7 de dezembro de 2009

O Feiticeiro de Oz - 70 anos

Um dos maiores filmes de fantasia de toda a história do cinema, baseado numa novela de 1900, completa agora 70 anos. O British Film Institute apresenta uma versão brilhantemente restaurada que vai, a partir de hoje, percorrer o Reino Unido. O trailer aqui:
The Wizard of Oz | BFI

5 de dezembro de 2009

Para a história da leitura


A Biblioteca Nacional de França tem patente até final de Janeiro de 2010 uma exposição extremamente relevante para a história da leitura e que contém, no respectivo site, na Internet, materiais de grande interesse.
Choses lues, choses vues, assim se intitula a iniciativa que está instalada na Sala Labrousse da Rue Richelieu, 2, e que foi concebida por Alain Fleischer. O autor explica em vídeo o sentido e alcance desta exposição. De resto, o trabalho em vídeo constitui uma vertente fundamental do site, sendo possível acompanhar duas dezenas de leituras filmadas de autores conhecidos, com destaque para Victor Hugo.
Absolutamente a não perder é o vídeo sobre os ratos e os livros "Work in progress avec Gérard" de josé Froment, filmado pelo próprio Fleischer. Mas o site tem mais motivos de interesse. Em francês, claro.

1 de dezembro de 2009

"The Vanishing Newspaper"

Fim dos jornais à vista? Há quem coloque a data para daqui a poucos anos e quem não acredite em tal cenário. O que não se pode afirmar é que o assunto seja novo. Como chama a atenção o Prof. Marcos Palácios, no blog Jornalismo e Internet, a revista Time há quase 70 anos já titulava que as notícias em papel (afinal é essa uma tradução à letra de newspaper) estava a caminho: The Press: The Vanishing Newspaper.

28 de novembro de 2009

Dois milhões de fotos e 85 anos de história

O arquivo fotográfico da agência Lusa passa a estar disponível no SAPO, fruto de uma parceria entre as duas entidades. São
85 anos de fotojornalismo que resultaram em mais de 2 milhões de fotografias (dois terabites de memória) que descrevem o mundo e os acontecimentos desde 1924.
"De grande valor histórico e jornalístico, este acervo fotográfico permite-nos conhecer, com o pormenor e poder que só a imagem tem, acontecimentos que marcaram a história mundial e nacional. O arquivo está organizado e dividido em 200 categorias e ao qual serão adicionadas diariamente 600 novas fotos."

23 de novembro de 2009

Elementos para a história da Internet


The History of the Internet in a Nutshell

... e o post de Cameron Chapman, do Six Revisions,sugere mais estes links sobre o mesmo assunto:

20 de novembro de 2009

O telefone em Portugal

De um texto hoje publicado no jornal digital Página 1, sob o título "A 20 de Novembro de 1963: Iniciadas as ligações telefónicas automáticas entre Lisboa e Porto":

“Nós é que fazíamos as ligações que os assinantes pretendessem”, recorda Maria Lurdes Oliveira, ex-funcionária da actual Portugal Telecom. O trabalho descreve-o como “pesado e exigente”. À sua frente, um painel com diversas tomadas. Cada uma correspondia a um telefone instalado. Sempre que um assinante quisesse contactar um outro, tinha que o solicitar à telefonista. “O assinante ligava, dizia a pessoa com quem queria falar e nós, através de uns
cabos, ligávamos”, conta. Depois de transferida a chamada, e uma vez que não havia forma de saber quando esta tinha terminado, a telefonista ia ouvindo a conversa para saber quando desligar os cabos.
Foi assim até à década de 40, época em que a APT (The Anglo Portuguese Telephone Company), empresa a quem foi adjudicado o contrato de fornecimento e montagem das primeiras instalações automáticas, iniciou a automatização das redes telefónicas. As cidades de Lisboa e do Porto, vistas como importantes focos de investimento, registavam um desenvolvimento mais acelerado quando comparadas com o resto do país. Ainda assim, o desenvolvimento e modernização das linhas era mais visível na cidade de Lisboa.
Documentos da época, agora na posse da Portugal Telecom, mostram que “as difi culdades de natureza económica, persistentes de forma mais evidente desde o fi nal da II Guerra Mundial, fi zeram com que a APT repensasse várias vezes a automatização da rede telefónica no Porto”.
Foi somente em 1952 que a “Picaria”, principal central da companhia telefónica na Região Norte, se automatizou. Passados seis anos, o automático já tinha sido instalado em todas as redes do perímetro urbano da cidade do Porto. Em 20 de Novembro de 1963, iniciou-se, então, o serviço interurbano Lisboa-Porto totalmente automático.
Serviço permanente, rapidez nas comunicações e melhores condições de transmissão, eram apenas algumas das vantagens do novo sistema. A telefonista deixou, defi nitivamente, de interferir nas ligações telefónicas. “Deixámos de ser nós. Os assinantes é que marcavam os números e as chamadas eram directas”, diz Maria de Lurdes Oliveira. (...)

14 de novembro de 2009

Mudanças nos media nos últimos 550 anos


Convidaram David Sasaki para uma palestra sobre uma perspectiva dos media nos últimos cinco anos (e tantas coisas mudaram, entretanto!). O convidado, porém, achou melhor colocar o assunto numa perspectiva mais vasta. E o resultado foi este "Changes in Media Over the Past 550 Years".
A ideia do autor resume-se neste pequeno parágrafo: "the World Wide Web is proving itself to be just as disruptive of a technology today as the Gutenberg Press was in the 15th century. The internet is growing up. There are now more Chinese internet users online than Americans."
O texto tem outra particularidade: mostra como a História dos media não é algo sobre o passado, mas antes sobre o presente. A arte está em encontrar as filiações, em evidenciar as relações. E este autor procura fazê-lo. Vale a visita e a leitura.

11 de novembro de 2009

Para a História da Rádio



A revista mexicana de comunicação Etcetera traz, na sua mais recente edição um pequeno dossier dedicado ao meio radiofónico, com alguns artigos de interesse para a história deste meio. Destaques:



Guillermo Zenizo Lindsey
El micrófono, arma de guerra
La Segunda Guerra Mundial pospuso el desarrollo de la televisión, pero consagró a la radio: en ese periodo fue el medio de comunicación más influyente y el canal desde el que la población, sobre todo aquella con altos índices de analfabetismo, siguió los acontecimientos al momento en que transcurrían(...).

Diana Andrade Uribe
Relato de onda corta
(...) No es cosa fácil hacer una selección de los episodios en los que su transmisión por la radio hubiera significado el cambio en el rumbo de la historia.(...)

Irma Carolina Valadez Calderón
La radionovela mexicana, en agonía
La radionovela en México es un producto que se resiste a abandonar los aparatos receptores. Desde su aparición, hace más de medio siglo, su producción ha disminuido poco a poco, al grado de que para muchos especialistas, el género prácticamente ha muerto.(...)

7 de novembro de 2009

A 'fita' que levou à "sétima arte"


A 'fita', neste caso, é a linha cronológica e o sítio da consulta é "EarlyCinema.com". Para estudar os antecedentes e os primeiros passos da nova e revolucionária forma de comunicação que foi o cinema nos finais do séc-XIX e inícios do séc.XX, o site é interessante. Além de uma cronologia que vai de 1827 a 1905, aproxima-nos dos nomes que foram pioneiros, das tecnologias que utilizaram e ainda nos proporciona recursos para levar o estudo mais longe.

3 de novembro de 2009

A "esfera pública"

Foi Habermas quem propôs o conceito de "esfera pública" ou de "espaço público", para caracterizar os debates dos salões, clubes e cafés burgueses do século XVIII. O conceito fez escola e começou a utilizar-se para aludir ao espaço simbólico reconfigurado sobretudo pelos grandes meios de comunicação social. Mas foi também sujeito a críticas e revisões. De um pouco tudo isso nos dá conta um historiador do jornalismo norte-americano, Michael Schudson, num texto recentemente publicado no site "Transformations of Public Sphere", intitulado "A family of public spheres".

2 de novembro de 2009

Para a história da internet

A propósito dos 40 anos sobre a primeira ligação conseguida entre dois computadores, nos Estados Unidos da América, que se completaram há dias (29 de Outubro), vale a pena ver o trabalho do Público "40 anos de Internet", assinado pelo jornalista João Pedro Pereira, e ver este vídeo do YouTube:

1 de novembro de 2009

Infográfico cronológico sobre arte e novos media


Arte e novos media: cronologia do séc. XX, de R. C. Hoetzlein:

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Clicar na imagem para ampliar.

21 de outubro de 2009

Quando o jornalismo desportivo era "coisa menor"

Sob o título "Este Jornalismo", escreve o director do Jornal de Notícias, na sua coluna de hoje:

"É bom recordar que, até à Primavera Marcelista, o regime nunca reconheceu os jornalistas desportivos, vedando-lhes o acesso à carteira profissional. Uma ignomínia! Vítor Santos, Homero Serpa, Carlos Pinhão, Carlos Miranda ou Alfredo Farinha, por sinal todos de 'A Bola', foram grandes jornalistas. A profissão não terá tido muitos repórteres da qualidade de Pinhão ou de Carlos Miranda, nem muita gente com a escrita tão limpa como o Homero ou o Farinha; e poucos chefes de Redacção terão suplantado Vítor Santos. Todos eles, figuras maiores da profissão, foram clandestinos durante anos e anos, porque o poder fascista tinha sobre a sua actividade a mesma opinião de Henrique Monteiro: era coisa menor. Devo dizer que comecei na profissão por um jornal desportivo, o 'Record', e que por lá encontrei alguns bons profissionais. E, sobretudo, numa altura em que não havia escolas de jornalismo, os jornais desportivos eram as grandes salas de aula, praticavam um jornalismo mais próximo das pessoas e dos acontecimentos, cultivavam todos os géneros, da reportagem à crónica e à entrevista, também porque, naturalmente, a censura não era tão atenta como acontecia com os jornais de informação geral."

20 de outubro de 2009

Fim do papel no horizonte?

Nos anos 80 do século passado e já antes, anunciou-se o escritório ou a redacção sem papel, o que não se veio a verificar, até agora. Aparentemente, até foi o contrário que ocorreu. Mas as questões ambientais, por um lado, a emergência de uma geração de nativos digitais, por outro, e, claro, a inovação tecnológica na definição dos ecrãs ou na flexibilidade de novos suportes, facilitando o acesso à informação (livros, jornais, catálogos, horários...) poderão vir a alterar um pouco, ou mesmo bastante, a situação actual. As mudanças, nesta matéria, nunca foram bruscas. Desde o papiro ao pergaminho, a durabilidade, a portabilidade e a facilidade de produção e utilização foram condições essenciais para a afirmação, vigência e morte desses suportes. Hoje é ainda difícil conceber o fim do papel. Mas as condições estão a ser criadas para isso.
Uma perspectiva sobre esse cenário aqui:

19 de outubro de 2009

Genéricos do Telejornal nos últimos 25 anos

Eis alguns exemplos de genéricos do Telejornal nos últimos 25 anos, interessantes para verificar mudanças e continuidades, no momento em que se evocam os 50 anos deste programa diário (o primeiro abre no site da RTP): AQUI

18 de outubro de 2009

Telejornal completa hoje 50 anos

Gerou-se alguma confusão acerca da data em que o telejornal teve início na RTP. Parece ter sido no dia 18 de Outubro de 1959. De facto, os registos documentais dos alinhamentos só existem naquela empresa a partir do dia 19, mas tal parece ficar a dever-se ao facto de o 18 ter sido dia de eleições autárquicas e o estreante programa ter tido, por conseguinte, características fora do que viria a ser a norma, a partir do dia seguinte.
A propósito desta efeméride, o Público pediu ao jornalista Francisco Sarsfield Cabral que escrevesse sobre a sua ligação à RTP, onde chegou a ser subdirector de informação.
Aqui fica o depoimento daquele jornalista, com a devida vénia ao Público):

Aventuras antigas à volta do Telejornal

Em 1961 - tinha eu 22 anos - iniciei na revista semanalFlamauma coluna de crítica de televisão chamadaQuem vê TV. Eu nada sabia de televisão, nem tinha ainda visto qualquer televisão estrangeira, mas fui atraído por amigos meus, que passaram nessa altura a colaborar naFlama(revista católica fundada em 1937 e extinta em 1976). Por exemplo, Pedro Tamen era director adjunto e havia cronistas como Nuno Bragança ou António Serra Lopes, que tinha naFlama uma hilariante coluna de humor.

Para tema das minhas curtas e certamente ineptas crónicas sobre TV, que duraram dois anos e tal, escolhia um ou dois programas para comentar, mas nunca a informação. Esta era evidentemente controlada pelo poder político. Na parte do noticiário nacional, o Telejornal era oficioso e maçador. Na área internacional, o Telejornal lá ia mostrando algumas coisas, mas não falava de temas que nos interessavam na altura, como a descolonização francesa da Argélia. Terminei a colaboração naFlama em 1963, quando casei e não quis ter televisão em casa. Assim me mantive até ao 25 de Abril de 1974. Nessa altura tive mesmo que comprar um aparelho para ver a revolução.

Experiência instrutiva

Jornalista profissional noDiário Popular desde 1970 (convidado por Francisco P. Balsemão para me ocupar apenas de assuntos económicos, uma novidade na altura), nunca tinha sentido interesse pelo jornalismo televisivo. Apareci na RTP uma ou duas vezes antes do 25 de Abril, num programa de actualidades apresentado pelo David Mourão-Ferreira, quando Marcello Caetano era chefe do Governo.

Em Julho de 1974 telefonou-me o José Carlos Mégre (nessa altura com responsabilidades na informação da RTP) convidando-me para, numa próxima edição de um programa semanal de cujo nome já não me lembro, fazer uma intervenção sobre a situação económica portuguesa. Tentei resistir, invocando a minha má dicção, a falta de experiência, etc., mas lá acabei por fazer o comentário.

Foi uma experiência instrutiva. Não só porque no dia marcado para a gravação esta não se pôde fazer por misteriosas razões técnicas, tendo que voltar à RTP no dia seguinte para gravar (contratempo que se repetiria mais tarde em circunstâncias bem piores). Foi instrutivo sobretudo porque, na ânsia insensata de abordar todos os grandes problemas da economia portuguesa do momento, que não eram poucos, gravei um comentário de oito minutos - uma eternidade em televisão.

Ninguém na RTP me disse que tinha sido demasiado longo. Era um pouco a cultura da casa: cada um que se amanhe, e se fizer asneira, pior para ele. Mas logo percebi que teria que ser muito mais breve. Ao fim de dois minutos, ou menos ainda, de discurso televisivo, o espectador normal deixa inconscientemente de dar atenção e começa a pensar noutra coisa.

O que subiu hoje?

Foi isso - falar curto e claro - que procurei fazer quando, a partir dessa altura, passei a ir com alguma frequência ao Telejornal para analisar temas económicos. Eram quase sempre más notícias. Sobretudo subidas dos preços dos produtos essenciais, então subsidiados pelo Estado (o célebre "cabaz"). Quando eu chegava à caracterização da RTP, nos velhos estúdios do Lumiar, a pergunta que me faziam era quase sempre: "Então o que é que subiu hoje?"

Foi uma grande escola ter de falar curto e claro para ser ouvido e compreendido. A linguagem técnica é rigorosa e sintética, só que não a podia usar, porque o grande público não a entendia. Evitava, por exemplo, a palavra inflação, substituindo-a por alta de preços ou coisa parecida (depois, os portugueses aprenderam à sua custa o que é inflação).

Luta política na RTP

Em 1974 e 1975 o Telejornal da RTP, única estação televisiva no Portugal da época, era a grande fonte de informação das pessoas. Na enorme agitação política em que se vivia, não raras vezes íamos para o estúdio e recebíamos a indicação para atrasar o Telejornal porque o Conselho da Revolução (ou outra qualquer entidade) tinha algo de importante a anunciar. E embora eu fosse um colaborador externo e eventual, dava para sentir a intensa luta política que se travava na redacção do Telejornal e na RTP em geral.

Aconteceu um caso curioso, não no Telejornal, mas num programa de entrevistas com políticos inventado pelo Vasco Pulido Valente,Responder ao País. No Outono de 1974, o Vasco, o Leonardo Ferraz de Carvalho e eu entrevistámos o arquitecto Nuno Portas, então secretário de Estado da Habitação. Meses antes o primeiro-ministro Vasco Gonçalves tinha prometido construir um certo número de casas para habitação social. Resolvemos colocar ao secretário de Estado uma única questão: "Quantas casas foram entretanto começadas a construir?" O Nuno Portas dava respostas muito inteligentes e cultas, mas não esclarecia o ponto. E nós insistíamos: "Quantas casas?" E assim foi até ao fim do programa.

Significativamente, esta entrevista nunca foi transmitida. Alguém o impediu. Desta maneira (e doutras...) se via a força do Partido Comunista na RTP no período revolucionário. Força por vezes aliada à extrema-esquerda, que outras vezes contrariava. Ora o 25 de Abril foi encontrar na RTP um grande número de pessoas que ali estavam graças a cunhas de figuras gradas do antigo regime. A maioria dessas pessoas passou-se imediatamente para a extrema-esquerda, para compensar e apagar o passado.

Fornadas de jornalistas

Depois do 11 de Março de 1975, com o PC a controlar cada vez mais a informação do Telejornal, deixei de ir à RTP, onde só regressei no fim de 1976, de novo para comentar assuntos económicos. E no ano seguinte entrei para a redacção do Telejornal, na situação (pouco frequente) de jornalista empart-time, passando afull-timealgum tempo mais tarde. Coordenei então uma equipa para tratar de assuntos económicos e sociais, com jornalistas como Cesário Borga, José Teles, Clara Pracana e Fátima Bonifácio (estas últimas seguiram depois outras e brilhantes carreiras).

Assisti, assim, às sucessivas fornadas de jornalistas que entravam na RTP consoante o poder político do momento - depois do PC, foi a vez de o PS e o PSD colocarem ali os seus homens de confiança. Isto levou, claro, a um enorme alargamento dos efectivos da RTP, problema que só muitos anos mais tarde seria ultrapassado.

Entretanto, os jornalistas que iam para a prateleira, porque na RTP tinha passado a mandar uma força política à qual não eram afectos, nem sempre se queixavam: é que após seis meses de permanência num cargo (chefe de redacção, por exemplo), o jornalista mantinha o vencimento ainda que já não exercesse o cargo.

Mau começo

No fim de 1978 o presidente da RTP, Soares Louro, avançou com uma reforma que trouxe um saudável factor de concorrência ao interior da única estação de TV existente. Nomeou um director para a RTP1 (Vasco Graça Moura) e outro para a RTP2 (Fernando Lopes). E designou dois subdirectores para a informação: Hernâni Santos para a 2 (onde o Jornal 2 se iria afirmar durante alguns anos como um espaço de qualidade informativa) e eu próprio para a 1, com o Telejornal e os programas informativos semanais do canal.

Durei pouco no lugar. Não por causa de pressões políticas ou outras, mas porque era monumental a desorganização da RTP em geral e da sua informação em particular. E fazer informação televisiva exige um vasto conjunto de meios, que precisam de funcionar com eficácia e coordenadamente. Ora eu não tinha poderes para introduzir um pouco de ordem na casa. Nem sequer dispunha de um gabinete com um mínimo de privacidade.

O meu "mandato", aliás, começou mal. No início de 1979 a informação do primeiro canal ia transmitir um grande programa de balanço do ano anterior. Um programa coordenado pela Maria Elisa, com políticos, economistas, artistas de música ligeira e de música clássica, etc.

A gravação do programa, no estúdio A do Lumiar, estava prevista para as 15h de uma quinta-feira, devendo ir para o ar na noite desse mesmo dia. E, de facto, por volta dessa hora estavam na RTP Mário Soares, Álvaro Cunhal, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Nobre da Costa, Mota Amaral, Vítor Constâncio (governador do Banco de Portugal) e outras personalidades de que agora não me recordo. Como a gravação tardava a iniciar-se e alguns convidados manifestavam irritação pelo facto, fui ao estúdio ver o que se passava. Aí informaram-me de que o programa não poderia ser gravado naquela hora, por motivos técnicos que ainda hoje não percebi bem quais fossem (ou, até, se existiram mesmo).

Passei então pela vergonha de transmitir aos ilustres convidados que, afinal, o programa não iria ser gravado, mandando-os embora. Calcula-se aquilo que ouvi. Recordo, em particular, a fúria de Mota Amaral (então presidente do Governo Regional dos Açores), pois tinha desmarcado um voo para Ponta Delgada, precisamente para vir ao programa. "Isto não se faz nem a um cão...", protestava ele.

Com a Maria Elisa em lágrimas e o Fernando Balsinha (meu adjunto, infelizmente já desaparecido), fomos de táxi do Lumiar para a Rua de S. Domingos à Lapa, onde era então, ainda, a sede da RTP. Fomos falar com o presidente para ver o que se poderia salvar da catástrofe. Soares Louro foi de uma serenidade notável e graças a ele conseguiu-se fazer o programa em directo, "sem rede", à noite. Uma arriscada aventura, dada a complexidade e o tempo da emissão, mas tudo acabou por correr bem. Todos os convidados aceitaram voltar nessa noite à RTP, com uma excepção: Sá Carneiro.

Os comunicados do ministro Passadas poucas semanas o director da RTP1, Vasco Graça Moura, demitiu-se em conflito com Proença de Carvalho, ministro da Informação de Mota Pinto (um dos governos de iniciativa presidencial do general Eanes). Não tendo Graça Moura sido substituído, passei a reportar directamente ao presidente Soares Louro, que recordo com saudade e com quem nunca tive problemas (excepto as horas de despacho, frequentemente nocturnas e tardias).

Sá Carneiro chamava a Proença de Carvalho "ministro da Propaganda". Talvez injustamente. Mas Proença tinha o hábito de enviar para o Telejornal, por telex, frequentes notas oficiosas ou comunicados, que tinham de ser lidos. Por vezes, os textos chegavam à redacção já com o Telejornal no ar. Uma vez, o pivô do Telejornal Adriano Cerqueira (outro amigo que também já não está connosco), quando em plena emissão do Telejornal recebeu o telex, mal impresso, teve de pôr óculos para o ler. No dia seguinte, o primeiro-ministro Carlos Mota Pinto telefonou-me, aliás com simpatia e correcção, levantando a hipótese de aquele gesto de Cerqueira ter sido uma forma encapotada de ridicularizar a nota em causa. Convenci-o do que eu próprio estava convencido: não tinha havido ali qualquer sombra de troça.

Jornal 2

Tendo saído da direcção da Informação da RTP1 e de funcionário da RTP em Abril de 1979, para ingressar na Petrogal (agora Galp), continuei a colaborar com o Telejornal com breves comentários de quando em quando sobre matéria económica. Mas a melhor recordação recente que guardo da RTP tem a ver com o jornal da 2. Sob a orientação de Henrique Garcia, em 1998, o Jornal 2 assumiu de novo características próprias, claramente distintas do Telejornal, com uma parte substancial dedicada ao comentário. Tive o gosto de participar na primeira emissão do Jornal 2 com o Henrique Garcia e fazer ali depois numerosos comentários económicos.

Mas tempos mais tarde o Henrique saiu (ou foi levado a sair) da RTP e nunca mais o Jornal 2 voltou ao que era com ele. Tornou-se uma edição abreviada do Telejornal, porventura por falta de meios próprios. É pena que as experiências positivas do passado não sejam aproveitadas.

franciscosarsfieldcabral@gmail.com

17 de outubro de 2009

Para a história dos media sociais

Como a história se está sempre a fazer, aqui fica um contributo para a história e evolução dos media sociais:

4 de outubro de 2009

Media timeline

A representação da história dos media através de cronologias é relativamente comum. Esta, do Centro para a Excelência na Prática dos Media, tem uma concepção original, estrturada em torno de três eixos: pessoas, tecnologias e instituições e um dispositivo que permite aproximar ou distanciar as datas. Centrado no cinema, rádio, televisão e media interactivos, inicia-se em 1736, com a Lanterna Mágica.

30 de setembro de 2009

Ilustração Portuguesa [1903-1914] acessível online


Um dos trabalhos mais meritórios no processo de migração para as plataformas digitais é a digitalização de colecções de jornais e revistas. A Hemeroteca de Lisboa faz, neste plano, um trabalho admirável, tornando acessível um vasto acervo documental que facilita a consulta e o estudo, nomeadamente por parte de quem vive e trabalha longe da capital.
Chega-nos agora a notícia da digitalização de parte da II série da revista Ilustração Portuguesa, publicada entre 1906 e 1914, depois de, em Janeiro passado, ter sido disponibilizada a I série, correspondente aos anos de 1903 e 1906.
"Damos, portanto - salienta a Hemeroteca - mais um passo na digitalização integral e disponibilização on-line desta publicação, que constitui, sem dúvida, um dos mais importantes repositórios de informação sobre a sociedade portuguesa" permitindo revisitar, "através dos seus textos e imagens, alguns dos principais acontecimentos históricos ocorridos em Portugal no primeiro quartel do século XX: o Regicídio de 1908, a revolução do 5 de Outubro de 1910, o início da Grande Guerra, entre outros".

17 de setembro de 2009

Três eras nos meios de comunicação

"Over the past few decades, as indicated earlier, it has become evident that, in terms of communications media, cultures can be divided conveniently and informatively into three successive stages: (1) oral or oral-aural (2) script, which reaches critical breakthroughs with the invention first of the alphabet and then later of alphabetic movable type, and (3) electronic."
--Walter Ong, The Presence Of The Word. New Haven, CT: Yale University Press, 1967, p. 17.
"America is, in fact, the leading case in point of what may be thought of as the third great crisis in Western education. The first occurred in the fifth century B.C., when Athens underwent a change from an oral culture to an alphabet-writing culture. To understand what this meant, we must read Plato. The second occurred in the sixteenth century, when Europe underwent a radical transformation as a result of the printing press. To understand what this meant, we must read John Locke. The third is happening now, in America, as a result of the electronic revolution, particularly the invention of television. To understand what this means, we must read Marshall McLuhan."
--Neil Postman, Amusing Ourselves To Death. New York: Penguin, 1987, p. 145.

14 de setembro de 2009

A rádio na guerra

Vem no Atrium este post relevante para a história da rádio:

70 anos – a rádio na II guerra mundial

11 de setembro de 2009

Imprensa das colónias de expressão portuguesa

"Imprensa das colônias de expressão portuguesa: primeira aproximação" é o título de um estudo que acaba de publicar o investigador brasileiro Antonio Hohlfeldt, doutor em Linguística e Letras e professor do Programa de Pós- Graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul .
Lê-se no resumo:
"Este trabalho é a primeira redação de um estudo de maiores proporções, que se insere num largo projeto sobre uma história do jornalismo luso-brasileiro, jornalismo que antecede, inclusive, a imprensa. Considera-se para isso, dentre outros autores, o entendimento expresso por Maria Cecília Guirado (2001, p.22), que identifica “os primeiros relatos do Descobrimento do Brasil como sendo as primeiras reportagens escritas em terra brasileira”. Pode-se estender esse conceito aos demais relatos de viagens e de descobertas, tanto quanto àqueles reunidos sob a denominação genérica de “histórias trágico-marítimas” que enfocam naufrágios e fugas de batalhas diante de piratas"

31 de agosto de 2009

7 de maio de 2009

Sobre a questão iconoclasta

Qual o estatuto da imagem?
Um momento importante do debate religioso e cultural sobre este assunto ocorreu nos séculos VIII e XIX no Médio Oriente, no seio do Império bizantino, mas com um significado que envolvia o judaísmo e o islamismo nascente.
Uma das figuras relevantes desse debate foi S. João Damasceno e foi sobre ele que o papa Bento XVI reflectiu numa audiência pública ontem realizada na Praça de S. Pedro, em Roma.
O que se segue é uma transcrição feita pela agência Zenit (com alguns termos adaptados do português de expressão brasileiro para português de Portugal):
"Hoje quero falar de João Damasceno, um personagem de primeira categoria na história da teologia bizantina, um grande doutor na história da Igreja universal. É sobretudo uma testemunha ocular da passagem da cultura grega e siríaca, compartilhada na parte oriental do Império bizantino, à cultura do Islão, que ganhou espaço com suas conquistas militares no território reconhecido habitualmente como Médio ou Próximo Oriente. João, nascido em uma rica família cristã, ainda jovem assumiu o cargo – talvez ostentado também por seu pai – de responsável económico do califado. Bem cedo, contudo, insatisfeito pela vida da corte, amadureceu a escolha monástica, entrando no mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém. Era por volta do ano 700. Não se afastando nunca do mosteiro, dedicou-se com todas as forças à ascese e à actividade literária, sem desdenhar uma certa actividade pastoral, da qual dão testemunho sobretudo suas numerosas Homilias. Sua memória litúrgica se celebra em 4 de Dezembro. O Papa Leão XIII proclamou-o Doutor da Igreja universal em 1850.
Dele se recordam no Oriente sobretudo os três Discursos contra quem calunia as imagens santas, que foram condenados, após sua morte, pelo Concílio iconoclasta de Hieria (754). Estes discursos, contudo, foram o principal motivo de sua reabilitação e canonização por parte dos Padres ortodoxos convocados no II Concílio de Niceia (787), sétimo ecuménico. Nestes textos é possível encontrar os primeiros intentos teológicos importantes de legitimação da veneração das imagens sagradas, unindo a estas o mistério da Encarnação do Filho de Deus no seio da Virgem Maria.
João Damasceno foi também um dos primeiros a distinguir entre o culto público e privado dos cristãos, entre a adoração (latreia) e a veneração (proskynesis): a primeira só pode dirigir-se a Deus, sumamente espiritual; a segunda, ao contrário, pode utilizar uma imagem para dirigir-se àquele que é representado nela. Obviamente, o santo não pode em nenhum caso ser identificado com a matéria da qual está composto o ícone. Esta distinção se revelou imediatamente muito importante para responder de modo cristão àqueles que pretendiam como universal e perene a observância da severa proibição do Antigo Testamento sobre a utilização cultual das imagens. Esta era a grande discussão também no mundo islâmico, que aceita esta tradição hebraica da exclusão total das imagens no culto. Ao contrário, os cristãos, neste contexto, discutiram o problema e encontraram a justificação para a veneração das imagens. Damasceno escrevia: «Em outros tempos, Deus não havia sido representado nunca em imagem, sendo incorpóreo e sem rosto. Mas dado que agora Deus foi visto na carne e viveu entre os homens, eu represento o que é visível em Deus. Eu não venero a matéria, mas o Criador da matéria, que se fez matéria por mim e se dignou habitar na matéria e realizar minha salvação através da matéria. Nunca cessarei por isso de venerar a matéria através da qual me chegou a salvação. Mas não a venero em absoluto como Deus! Como poderia ser Deus aquilo que recebeu a existência a partir do não ser?... Mas eu venero e respeito também todo o resto da matéria que me procurou a salvação, enquanto que está cheia de energias e de graças santas. Não é talvez matéria o lenho da cruz três vezes bendita?... E a tinta e o livro santíssimo dos Evangelhos, não são matéria? O altar salvífico que nos dispensa o pão da vida não é matéria?... E antes que nada, não são matéria a carne e o sangue do meu Senhor? Ou se deve suprimir o carácter sagrado de tudo isso, ou se deve conceder à tradição da Igreja a veneração das imagens de Deus e a dos amigos de Deus que são santificados pelo nome que levam, e que por esta razão estão habitados pela graça do Espírito Santo. Não se ofenda portanto a matéria: esta não é desprezível, porque nada do que Deus fez é desprezível» (Contra imaginum calumniatores, I, 16, ed. Kotter, pp. 89-90). Vemos que, por causa da encarnação, a matéria aparece como divinizada, é vista como morada de Deus. Trata-se de uma nova visão do mundo e das realidades materiais. (...)"

13 de março de 2009

Museu Virtual da Rádio e da TV


A RTP apresentou hoje o museu virtual dedicado ao espólio de rádio e televisão, quer no respeitante a equipamentos quer a conteúdos.
Não existe ainda um museu físico que muitos reivindicam, e que a Lei da rádio, no seu artigo 48º, impõe à concessionária, por ser fundamental ao resgate da memória do operador público e da história do país no século XX. Segundo o Público online de hoje, "cerca de cinco mil objectos, que representam uma das maiores colecções da Europa sobre história da rádio" encontram-se empacotados, desde que a RDP encerrou o Museu da Rádio, em 2006. Pedro Brauman, director do Gabinete de Estudos e Documentação da RTP, refere que, a partir da segunda metade deste ano passará a ser possível realizar visitas ao espólio, mas não numa lógica de museu.
O espaço virtual hoje aberto permite ouvir e ver trechos de programas, contactar com as sonoridades e as vozes das diferentes épocas, observar de perto os objectos e as respectivas fichas descritivas.

9 de janeiro de 2009

Nas origens da imprensa e do jornalismo


[Jornal Mercurius Rusticus, de 1646, alusivo à guerra civil na Inglaterra]

Até ao final deste mês está patente na Folger Shakespeare Library, em Washington, uma exposição intitulada "Renaissance Journalism and the Birth of the Newspaper".
O interesse do facto - para além daqueles que podem ir fisicamente ao local - está em que o site desta Biblioteca disponibilizou uma série de materiais de bastante interesse, entre imagem e texto, incluindo uma parte pedagógica, a pensar nos mais pequenos.

3 de janeiro de 2009

DN: um jornal que marcou a diferença



"No dia 29 de Dezembro de 1864 via a luz do dia o primeiro número do Diário de Notícias. A iniciativa de Thomaz Quintino Antunes e Eduardo Coelho marcava uma diferença relevante naquele que era então o panorama da imprensa em Portugal: num cenário em que os jornais eram sobretudo panfletos de combate político, surgia um diário que não escondia uma inspiração anglo-saxónica, ao apostar na sobriedade da informação e na prioridade factual.

O crescimento e implantação do jornal resultaram também de outras inovações que explicam um êxito singular. O DN recorreu a ardinas para a venda do periódico e lançou o chamado pequeno anúncio, uma fonte de receita fundamental no processo de expansão e prosperidade da empresa. Foi também precursor em matéria de ligação à sociedade civil, promovendo uma série de iniciativas, que foram desde subscrições públicas de solidariedade com os mais desfavorecidos até à organização de provas desportivas de primeiro plano (...)".

Mário Betencourt Resendes, Diário de Notícias, 3.1.2009