Espaço de apoio à Unidade Curricular
de História da Comunicação e dos Média (CC-UMinho)
3 de fevereiro de 2008
Quando a informação se tornou negócio
" (...) a maioria dos directores dos grandes jornais e presidentes dos grupos de comunicação social não são jornalistas. São grandes executivos.
A situação começou a alterar-se quando o mundo percebeu, há não muito tempo, que a informação é um grande negócio.
No início do século [XX], a informação tinha duas faces. Podia visar a procura da verdade, a identificação do que realmente acontecia e informar as pessoas desses factos na tentativa de orientar a opinião pública. Para a informação, a verdade era a qualidade essencial.
O segundo modo de conceber a informação era tratá-la como um instrumento de luta política. Inicialmente, os jornais, as rádios, a televisão, eram instrumentos de diferentes partidos e forças políticas em luta pelos seus interesses. Assim, por exemplo, no século XIX, em França, na Alemanha ou em Itália, todos os partidos e todas as grandes instituições tinham a sua própria imprensa. A informação, para essa imprensa, não era a procura da verdade, mas sim uma forma de ganhar espaço e derrotar o próprio inimigo.
Na segunda metade do século XX, em particular nos últimos anos, após o fim da Guerra Fria, com a revolução da electrónica e da comunicação, o grande mundo dos negócios, subitamente, descobre que a verdade e a luta política não são importantes, que o que conta, na informação, é o espectáculo. E, uma vez criada a informação-espectáculo, podemos vendê-la por toda a parte. Quanto mais espectaculosa é a informação, mais dinheiro podemos ganhar com ela.
Deste modo, a informação separa-se completamente da cultura: começa a flutuar no ar; quem tem dinheiro, pode adquiri-la, difundi-la e ganhar ainda mais dinheiro. Portanto, presentemente, estamos a viver uma era de informação absolutamente diferente. Este é o novo facto da situação actual (...)".
In Conversas sobre bom jornalismo com Kapuscinski, PUBLICO 03.02.2008
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