António Barreto (2008) Os 50 anos da Televisão - Quando tudo começou
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Espaço de apoio à Unidade Curricular
de História da Comunicação e dos Média (CC-UMinho)
Seguem-se explicações sobre o Período Iconoclasta, no século VIII, quando o imperador Leão decide banir as imagens.No site da exposição encontra-se, entre outros motivos de interesse, um guia de natureza educativa que se refere também ao problema da iconoclastia. Ficam aqui algumas citações:
Porquê? Responde Cyril Mango no catálogo: o Islão estava em expansão vitoriosa, e porque eram os árabes tão vitoriosos, eles que não tinham imagens de Deus? Leão terá achado que os cristãos estavam a ser punidos por terem cedido à idolatria.
"Bizâncio começou com arte figurativa e depois veio um imperador e disse: foi um grande erro", sintetiza Robin no meio dos jornalistas. "E esse debate prolongou-se por mil anos."
O Período Iconoclasta teve várias consequências com impacto até hoje, e uma delas é o que sabemos da literatura antiga. Como não podiam fazer imagens, os bizantinos desse período concentraram-se em copiar livros, explica Cyril Mango, no catálogo. "O nosso conhecimento de literatura grega está muito confinado às cópias feitas durante Bizâncio. O que não foi copiado perdeu-se." Por outro lado, os bizantinos eliminaram dos textos o vernáculo, deixando-nos uma imagem distorcida da escrita da época.
‘As the painters when they paint icons from icons, looking closely at the model, are eager to transfer the character of the icon to their own masterpiece, so must he who strives to perfect himself in all branches of virtue look to the lives of saints as if to living and moving images and make their virtue his own by imitation.’
Sacra Parallela, John of Damascus (Eighth-century)
‘The honour that is paid to the image passes on to that which the image represents and he who does worship to the image, does worship to the subject represented in it.’
Second Council of Nicaea, 787
Byzantine icons had a functional as well as an aesthetic aim: they were made as props in the face of joy and sorrow, happiness and pain. They received the prayers and veneration that passed through them to the ‘other’ world that they symbolized, and they were expected to reflect the powers of God.
Robin Cormack, in Byzantine Art
Byzantine iconophiles, or image-lovers, believed that icons were holy in their own right, and not solely devotional objects. Icons and their recurrent subjects – Christ as ruler of the world, the Virgin and Child, and a host of various saints – provided a moral example to worshippers, illuminating the importance of family life and reiterating Christian doctrine.
In Bizantium 330-1453 Exhibition Education Guide, 2008
O nascimento da telenovela ficou destinado no dia 19 de Junho de 1842 - cerca de um século antes de aparecer a televisão. Nesse dia começou a publicar-se no Journal des Débats, de Paris, o folhetim de Eugène Sue Os Mistérios de Paris, o primeiro dos grandes êxitos do género. O furor foi total. A narrativa ia evoluindo consoante as reacções do público, como se o folhetim se escrevesse a si mesmo. Ricos e pobres agarravam-se ao jornal e liam os numerosos enredos simultâneos de acordo com os seus sonhos e a sua posição. As audiências aumentaram: o jornal ganhou 20.000 assinaturas. Os gabinetes de leitura pública alugavam um exemplar do Journal des Débats a dez soldos por meia hora.
(...) Sue defendia aqui a caridade e a acção individual, sem ter de alterar-se a ordem social: basta que o herói seja um super-herói e os pobres terão consolo. Por isso Marx e Engels, na sua primeira obra conjunta (1845), desancaram Sue.
Mas houve mais consequências: o mundo rendeu-se ao novo género do folhetim - melodrama em episódios mutantes - e por todo o lado surgiram mistérios: Mistérios de Berlim, Mistérios de Munique, Mistérios de Bruxelas, Mistérios de Londres, Mistérios de Marselha, Mistérios de Nápoles, até Balzac, o Grande, escreveu, para variar, Mistérios de Província, e por cá Camilo, porque tinha de ser ele, escreveu uns Mistérios de Lisboa (1854), que começam com a promissora frase folhetinesca "Era eu um rapaz de catorze anos, e não sabia quem era." (Centenas de capítulos depois, Camilo acaba o melodrama com o desenlace apropriado: "O mundo ignora que estas duas sepulturas são o leito nupcial daqueles dois desgraçados.")
Escrito para o consumo de massa, obedecendo aos gostos e exigências da audiência, o folhetim pressupunha a perda de autonomia do escritor. E, com a escrita para o dia-a-dia, vergava às regras da indústria da imprensa. Era o primeiro exemplo flagrante das indústrias culturais. Edgar Poe não gostou que o "único objectivo" de Sue tivesse sido "fazer um livro excitante e, consequentemente, vendível." Até hoje, este dilema não abandonou as indústrias culturais, desde a literatura à TV.
É importante sublinhar que a actualidade social do folhetim de Sue contribuiu para o seu impacto. Entretanto, o mito em torno dos Mistérios de Paris avantajou-os; chegou-se a escrever que, ao consciencializarem o povo de Paris da sua miséria, tinham contribuído para a Revolução de 1848. Na verdade, o poder político esteve atento e arranjou maneira de condicionar autores e editores: a ERC da época fez sair em 1851 uma forma de censura indirecta, a lei Riancey, criando uma taxa de cinco cêntimos por cada jornal que incluísse um folhetim.
Os Mistérios de Paris prolongaram-se noutras formas de cultura de massas, com cinco adaptações francesas ao cinema entre 1911 e 1962, uma italiana (1957) e uma série de TV franco-alemã (1980). Depois da obra pioneira de Sue, cuja leitura integral é hoje tão intragável como seria ver ou ler os diálogos de Vila Faia (RTP1, 1982) ou de Todo o Tempo do Mundo (TVI, 1999), surgiram inúmeros folhetins, alguns para sempre, como Os Três Mosqueteiros ou O Conde de Monte Cristo. Num outro Mistério, o da Estrada de Sintra, Eça e Ramalho subverteram o género, fazendo do romantismo uma divertida mas criminosa estupidez.
Convém-me aqui um flash-back: em Inglaterra e em França já havia romances retalhados para divulgação parcial ou integral na imprensa, mas não eram folhetins como os Mistérios. O volte-face começa em 1836, com La Presse e Le Siècle, os primeiros jornais franceses destinados à massa e, pormenor nada desprezível, pioneiros no uso da melhor forma de introduzir a publicidade na imprensa: baixando o preço do exemplar. (...) Essas primeiras ficções na imprensa eram ainda romances divididos em parcelas diárias, enquanto Os Mistérios de Paris foi escrito enquanto folhetim, ao serviço do leitor e da actulidade para obter a máxima audiência, com as suas lágrimas de sangue, ganchos criando suspense para o dia seguinte, cenas intermináveis, repetição de narrativas e flash-backs, reconhecimento de filhos extraviados e de pais perdidos, com pobres e ricos cruzando-se num amor talvez não impossível ou num ódio talvez abatível. Nada que um espectador de hoje não conheça. (...)
(Imagem: Eugène Sue)
Certamente produto das dores da transição grega da oralidade para a sociedade letrada, esta passagem do Diálogo de Platão, Fedro ou Da beleza, é constantemente referida pelos estudiosos da escrita e da memória. Cremos ser ela também muito útil para se pensar nas relações entre uma certa sabedoria e a chamada erudição. Questões que certamente lhes interessam, rara e raro leitores, o que animou este neoblogueiro a fazer o registro abaixo, um pouco mais longo que o habitual, torcendo para que esta garrafa que o contém, antes de alcançar terra fértil, não se quebre de encontro a algum rochedo e tudo se perca nas águas do mar salgado. A tradução, logo se percebe, é portuguesa e castiça!